sábado, 12 de janeiro de 2013

A crise na Espanha se aprofunda cada vez mais



Carlos Frederico Alverga
Estou fazendo um curso de 3 semanas em Toledo, Espanha, e realmente a crise aqui está se aprofundando cada vez mais. Os governos central e das comunidades autônomas cortaram a gratificação natalina dos servidores públicos, a saúde pública está sendo privatizada na Comunidade de Madri apesar das manifestações de protesto dos sindicatos, e os cortes orçamentários atingem até o seguro desemprego, isso sem falar nos despejos residenciais devido à crise imobiliária/hipotecária e na maior taxa de desemprego da União Européia de mais de 26% da população economicamente ativa, maior até do que a taxa da Grécia.
As pessoas tomaram financiamentos nos bancos para comprar o imóvel próprio, dando o próprio imóvel como garantia; muitos perderam o emprego e a renda, ficaram sem dinheiro, não conseguiram mais pagar as prestações e, por causa disso, os bancos retomaram os imóveis, o que gerou, inclusive, suicídio de algumas pessoas em decorrência dos despejos.
Os bancos espanhóis falidos foram salvos pelo dinheiro da União Européia, mas os cidadaos, as pessoas comuns, perderam suas casas e seus empregos. Hoje a Espanha já tem 27% da sua população abaixo da linha de pobreza. Portugal tem 24%. Ambos os países estão empobrecendo em consequência da crise.
BRASILEIROS EM ALTA
Devido à crise econômica espanhola e à boa situação financeira de parte da classe média brasileira, que consegue viajar para a Europa e gasta muito em compras, e também por causa do elevado desemprego espanhol, os brasileiros não estão mais sendo deportados da Espanha, tema que foi assunto até de uma visita do Rei da Espanha ao Brasil em junho de 2012.
O aniversário de 75 anos do Rei foI celebrado em 4 de janeiro mediante a realização de uma entrevista na TV estatal, a qual teve repercussão ruim entre a população, porque foram evitados os dois assuntos polêmicos que mais mobilizam os espanhóis: a caça a elefantes de que o Rei participou no início de 2012 e o envolvimento do genro do Rei, Urdungarin, em um escândalo de corrupção de desvio indevido de recursos públicos.
Quanto ao Rei, este demonstrou preocupação em relação à unidade territorial da Espanha, tendo em vista o sentimento nacionalista/separatista majoritário na Catalunha, uma das regiões mais ricas da Espanha junto com o país basco, no qual estão situadas as mais relevantes instituições financeiras espanholas. O Rei também manifestou preocupação com o elevado desemprego e com o terrorismo do ETA que ainda não foi completamente extirpado da sociedade espanhola.
IGUAL AO BRASIL…
É importante destacar que o Rei desempenhou um papel digno na transição da ditadura franquista para a democracia. O Rei herdou os plenos poderes de Franco, mas os devolveu à soberania popular, tendo, ainda, sido contrário à tentativa de golpe militar de 23/2/1981, o famoso 23F, garantindo assim a continuidade da democracia espanhola. Também vale a pena lembrar que o chefe do Governo espanhol que operacionalizou o retorno à democracia depois do franquismo foi, surpreendentemente, um político da extrema direita franquista, falangista, que havia feito carreira no regime autoritário de Franco, Adolfo Suárez.
No mais, são grandes as semelhanças entre o Brasil e a Espanha: muitos escândalos de corrupção envolvendo os políticos, nepotismo e patrimonialismo, descaso com os serviços sociais e até a candidatura de Madri para ser a sede da Olimpíada de 2020 aproxima os dois países. Os políticos em ambos os países preferem investir nas Olimpíadas em vez de melhorar as condições de saúde, educação, transporte e habitação da população. A razão principal é óbvia: a possibilidade de auferir lucros ilegais decorrentes da corrupção da primeira opção é bem maior do que na 2ª.

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