Ricardo Setti - Veja
Post do leitor Reynaldo-BH
O copo está meio cheio ou meio vazio?
Ultrapassar limites é da natureza humana. Ficar por lá – para além dos limites – não.
Quarta-feira, 13, o Supremo Tribunal Federal chegou próximo ao ponto de ruptura. Temi pelo pior, mesmo exigindo que saibamos do que se falou.
Joaquim Barbosa, em uma frase – em meio ao desabafo doído de Gilmar Mendes – , se comprometeu com a História. Pelo que conhecemos de Joaquim Barbosa, sabemos que cumprirá.
Resta saber quando.
– E vou dizer quando deixar este tribunal! – disse o ministro presidente do STF.
Não disse “após a aposentadoria”. Deixou claro que a hora não tardará tanto — sua aposentadoria compulsória, por atingir os 70 anos de idade, só se dará em 2024.
Quando, então?
A tempo de ser partícipe da campanha eleitoral de 2014?
Ou a tempo de resgatar a dignidade perdida do STF, ou seja, a qualquer momento?
Gilmar Mendes falava cara-a-cara com os que deveriam ao menos contradizer as afirmações, que afirmavam ser o julgamento do Mensalão uma manipulação (controlar, mandar, obrigar – Dicionário Informal da WEB).
E deu a lista: o atraso proposital do início do julgamento, o tempo perdido, a procrastinação para que dois ministros fossem substituídos, a eterna chicana do adiamento, a destruição (pelo que se fez e principalmente como) de como será o Processo Civil e Penal no Brasil.
E acusava: foi MANIPULADO.
Imaginemos o julgamento de Eduardo Azeredo e Marcos Valério pela corrupção em Minas Gerais. Usando o que o STF decidiu, o julgamento deverá – pelos meus cálculos – ser concluído em 2022! Favor do mensalão aos ladrões de Minas.
Mas o que importa é a voz que se ouve claramente em pleno desabafo de Joaquim Barbosa:
– Eu vou falar quando deixar a Corte!
Fico na dúvida de torcer por este abandono prematuro e pela permanência que ainda nos permite ter esperanças.
Quem sabe ao fim do julgamento? Seria a hora e momento. Uma perda para a Justiça e um ganho inimaginável para o Brasil.
Por vezes é necessário destruir o castelo para que erga outro no lugar.
Que o Estado de Direito seja prevalente. Que chicanas ridículas, abjetas e vergonhosas não sejam elevadas à categoria de defesas com a complacência e incentivo de ministros sem pudor.
A crise virá se Joaquim Barbosa continuar a cumprir as promessas que faz. Sempre cumpre.
E que da crise tenhamos a oportunidade de ter um Poder Judiciário autônomo e não vergonhosamente de joelhos, fruto da manipulação, chantagem, escolha de esbirros dóceis e alteração da prestação jurisdicional.
Que venha a crise. Na democracia elas existem e nela, saberemos resolver.
Assim não teremos mais que assistir um ministro (a quem claramente foi dirigida uma pesada acusação, o sr. Lewandowsky) ficar em silêncio quando exposto na verdadeira condição de manipulado. Uma vergonha.
Creio que ficou em silêncio, pois sabia que tinha companhia no plenário.
Ganhamos, sim. Pois APESAR do STF conseguimos um MÍNIMO de Justiça. Se não houvesse uma imprensa atenta e uma indignação popular, ainda estaríamos esperando o relatório revisor de Lewandowsky.
“Para que pressa?”
Agora não temos mais a pressa do fim do julgamento.
Foi substituída pela pressa em sabermos o que Joaquim Barbosa sabe e não disse ainda.
Ou o que todos sabemos, mas ninguém – do STF – teve a coragem de externar.
Temos pressa. E decência.
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