O ESTADÃO - 03/11
Caso estejam mesmo pretendendo algo além de apenas competir na eleição presidencial de 2014, convém que os candidatos de oposição à reeleição da presidente Dilma Rousseff preparem armas e façam as bagagens para enfrentar uma parada dura. Não a presidente, cujo favoritismo não supre suas evidentes deficiências nem obscurece o fato de que, com todas as facas e os queijos à sua disposição, conta com 38% nas pesquisas de intenção de votos. O x da questão é o ex-presidente Lula da Silva, a quem todos eles prestam a maior reverência, a quem todos parecem temer.
A ele todos respondem com punhos de renda enquanto são atacados por mãos de aço. Simulam indiferença para não dar mais corda e fazer exatamente o que ele quer: chamar a briga para si, atrair as luzes, consciente que é da própria mítica, da capacidade de alimentá-la e da carência de atributos de sedução eleitoral de Dilma Rousseff.
Ocorre que não vai adiantar. Bem recuperado de saúde e indiferente à promessa de fazer “churrasquinho em São Bernardo” quando deixasse a Presidência a fim de ensinar a antecessores como devem se comportar chefes de nações após o exercício do poder, Lula está a toda velocidade e, por que não dizer, ferocidade. Não que quando ocupasse de direito o Palácio do Planalto fizesse alguma cerimônia nos quesitos distorção da verdade, atropelo da lei, elogio à incoerência e desapreço pela civilidade no trato de quem lhe faz oposição. Mas agora, livre de questionamentos legais, está solto para dizer o que quiser de quem bem entender, no tom que melhor lhe convier como, de resto, tem feito.
E o que faz a oposição? Faz-se de desentendida. Pega leve. Seja na expressão do tucano Aécio Neves, que convida o ex-presidente a parar de “brigar com a história” (como se não fosse este um dos truques mais batidos e repetidos por Lula) ou nas palavras do governador Eduardo Campos que, diante das provocações, ressalta suas ótimas relações pessoais com o ex-presidente.
Amenidades apenas táticas, certamente. Mas em se tratando do personagem em tela, isso não o paralisa nem o sensibiliza. Não se sugere aqui a socialização da grosseria e da mentira. Fala-se de algo mais simples, da confrontação de Lula com os fatos, a exposição de suas mistificações, a crítica ao seu desprezo aos valores tão exaltados por adversários como Marina Silva. Mas para isso é preciso ter coragem.
Demagogia
Não fica em pé e falta também cabeça à emenda constitucional aprovada semana passada na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara instituindo regra que altera o modelo de composição dos legislativos federal, estaduais e municipais para reservar um mínimo de um quinto e o máximo de 50% das cadeiras existentes a parlamentares que se declarem de origem negra. Note-se que a proposta é muito diferente daquela que exige dos partidos uma reserva de 30% das vagas de candidatos para mulheres. A ideia agora é que o eleitor vote duas vezes, sendo uma especificamente para preencher a cota.
Primeira pergunta: a outra escolha deverá ser necessariamente em brancos? Têm-se aí um desenho perfeito de segregação a ser reproduzido na Câmara dos Deputados, nas assembleias legislativas e nas câmaras de vereadores.
Segunda pergunta: a cor da pele determina ou assegura o desempenho, a compostura, a identificação das ideias, a confiabilidade e até a representação social?
Terceira pergunta: onde fica a igualdade de condições eleitorais como determina a lei?
Quarta pergunta: não fossem essas e tantas outras questões que por certo serão levantadas, desde quando é de se esperar que o Congresso aprove uma reserva de mercado racial? Tal emenda seria apenas mera demagogia não fosse, sobretudo, ridícula.
Caso estejam mesmo pretendendo algo além de apenas competir na eleição presidencial de 2014, convém que os candidatos de oposição à reeleição da presidente Dilma Rousseff preparem armas e façam as bagagens para enfrentar uma parada dura. Não a presidente, cujo favoritismo não supre suas evidentes deficiências nem obscurece o fato de que, com todas as facas e os queijos à sua disposição, conta com 38% nas pesquisas de intenção de votos. O x da questão é o ex-presidente Lula da Silva, a quem todos eles prestam a maior reverência, a quem todos parecem temer.
A ele todos respondem com punhos de renda enquanto são atacados por mãos de aço. Simulam indiferença para não dar mais corda e fazer exatamente o que ele quer: chamar a briga para si, atrair as luzes, consciente que é da própria mítica, da capacidade de alimentá-la e da carência de atributos de sedução eleitoral de Dilma Rousseff.
Ocorre que não vai adiantar. Bem recuperado de saúde e indiferente à promessa de fazer “churrasquinho em São Bernardo” quando deixasse a Presidência a fim de ensinar a antecessores como devem se comportar chefes de nações após o exercício do poder, Lula está a toda velocidade e, por que não dizer, ferocidade. Não que quando ocupasse de direito o Palácio do Planalto fizesse alguma cerimônia nos quesitos distorção da verdade, atropelo da lei, elogio à incoerência e desapreço pela civilidade no trato de quem lhe faz oposição. Mas agora, livre de questionamentos legais, está solto para dizer o que quiser de quem bem entender, no tom que melhor lhe convier como, de resto, tem feito.
E o que faz a oposição? Faz-se de desentendida. Pega leve. Seja na expressão do tucano Aécio Neves, que convida o ex-presidente a parar de “brigar com a história” (como se não fosse este um dos truques mais batidos e repetidos por Lula) ou nas palavras do governador Eduardo Campos que, diante das provocações, ressalta suas ótimas relações pessoais com o ex-presidente.
Amenidades apenas táticas, certamente. Mas em se tratando do personagem em tela, isso não o paralisa nem o sensibiliza. Não se sugere aqui a socialização da grosseria e da mentira. Fala-se de algo mais simples, da confrontação de Lula com os fatos, a exposição de suas mistificações, a crítica ao seu desprezo aos valores tão exaltados por adversários como Marina Silva. Mas para isso é preciso ter coragem.
Demagogia
Não fica em pé e falta também cabeça à emenda constitucional aprovada semana passada na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara instituindo regra que altera o modelo de composição dos legislativos federal, estaduais e municipais para reservar um mínimo de um quinto e o máximo de 50% das cadeiras existentes a parlamentares que se declarem de origem negra. Note-se que a proposta é muito diferente daquela que exige dos partidos uma reserva de 30% das vagas de candidatos para mulheres. A ideia agora é que o eleitor vote duas vezes, sendo uma especificamente para preencher a cota.
Primeira pergunta: a outra escolha deverá ser necessariamente em brancos? Têm-se aí um desenho perfeito de segregação a ser reproduzido na Câmara dos Deputados, nas assembleias legislativas e nas câmaras de vereadores.
Segunda pergunta: a cor da pele determina ou assegura o desempenho, a compostura, a identificação das ideias, a confiabilidade e até a representação social?
Terceira pergunta: onde fica a igualdade de condições eleitorais como determina a lei?
Quarta pergunta: não fossem essas e tantas outras questões que por certo serão levantadas, desde quando é de se esperar que o Congresso aprove uma reserva de mercado racial? Tal emenda seria apenas mera demagogia não fosse, sobretudo, ridícula.
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