Gaudêncio Torquato
“Por que queríamos chegar ao governo? Não para agir como os outros, mas para atuar de maneira diferente”. A pergunta foi feita, há poucos dias, por Luiz Inácio Lula da Silva. Trata-se da mais emblemática peroração do fundador do Partido dos Trabalhadores sobre os rumos que a entidade tomou em seus 33 anos de vida. Lembra os tempos heroicos de outrora, quando “parecia bonito carregar pedra”, diferentemente dos dias atuais, em que a pessoa “vai fazer uma campanha e todo mundo cobra”.
A evocação saudosa do guia do PT, mesmo que não tenha sido essa a sua intenção, sinaliza o fim de um sonho, o mesmo que acolhe a intenção da ex-senadora do Acre Marina Silva de inaugurar, ao lado do parceiro Eduardo Campos, governador de Pernambuco e presidente do PSB, uma nova era na política.
Diante da impossibilidade de substituir uma cultura política por outra, da noite para o dia, principalmente quando não há movimentos capazes de redirecionar práticas, costumes e processos, torna-se evidente que a emblemática Marina se assemelha, em sua peregrinação, à imagem de “carregadora de pedra” do mesmo molde do empreendimento que o velho PT tentou construir, em 33 anos, e não conseguiu.
Em saudável nação democrática, 20 anos no centro do poder amarram qualquer partido numa sequoia cheia de cupins. A deterioração se instala, um ambiente acomodatício invade as cercanias do poder. No passado, cada ciclo tinha sua vitamina. A era FHC exibia a charmosa bandeira social-democrata. Tinha, de um lado, a força dos capitais privados e, de outro, os braços do Estado do bem-estar, que exigia domínio sobre os serviços públicos. O ciclo Lula, aproveitando a derrocada do choque liberal dos anos 90, revigorou o capitalismo de Estado, inaugurando o mais abrangente programa de distribuição de renda da comunidade mundial.
MODELO EXAURIDO
Hoje, esse modelo parece exaurido. Na era Dilma, a presença do Estado na economia se faz mais forte, causando certo desconforto nos investidores internacionais. O PT, por seu lado, passou a ser membro atuante no palco da velha política, disputando com apetite fatias de poder. Na floresta dos tucanos, as árvores, com cascas cada vez mais despregadas, envergam de velhice. O PSDB não se renovou. A sigla vive de lembranças de quando os governadores Franco Montoro e Mário Covas brandiam seus escopos.
O tom lamuriento de Lula e o desespero tucano para unir suas alas e amenizar querelas internas constituem inequívoca sinalização de que, em 2014, assistiremos à última sessão de cinema, encenada pelos dois maiores competidores eleitorais. PSDB e PT poderão, até, voltar a resplandecer no futuro, voltando a se espichar para cima e para baixo como uma árvore adolescente, mas esse renascimento implica profundo reencontro com ideários e valores.
Não significa que outros deverão, a seguir, tomar seu lugar. Não há indicação disso. O cenário é o de difusa disputa entre grandes e médios partidos, com foco em indivíduos, e não em ideias, sob a égide de uma modelagem eleitoral muito permissiva quanto ao uso de recursos financeiros e centrada na exuberância mercadológica.
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