Vitor Hugo Soares
Aconteceu na madrugada de terça-feira, 14 de outubro, Dia do Professor.
Jô Soares, mestre de cerimônia do programa de entrevista e espetáculo de mais larga tradição, audiência e prestígio da televisão brasileira, não poderia ter escolhido uma data melhor e mais apropriada para a conversa especial esta semana, pela Rede Globo, com a ex-senadora acreana Marina Silva.
Nome que não sai da boca do povo há duas semanas, mas ainda atravessado na garganta de muita gente de partidos e do poder.
“Professora Marina Silva, venha para cá”, disse o âncora, ao convocar à mestra postada com simplicidade e elegância no auditório, para sentar ao seu lado na poltrona famosa do palco principal.
Começava, então,a primeira – e a mais didática e reveladora entrevista, de Marina Silva, depois da reviravolta surpreendente e espetacular, representada pela coligação com o PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos,que se seguiu à tentativa de golpe cartorial, a partir da decisão do TSE de rejeitar (6 a 1) a criação do partido Rede Sustentabilidade.
Decisão difícil de engolir, principalmente no País com 33 partidos políticos com registros legais, embora boa parte deles não passem de balcões de negócios e arranjos em períodos eleitorais, como este que está em curso.Ou de barganhas de “corar frade de pedra” no Congresso Nacional, nas assembléias estaduais, ou nas câmaras de vereadores em mais de 5 mil municípios Brasil afora.
E a professora - Jô fez questão de frisar, na abertura do segundo bloco, ao qualificar uma de suas entrevistadas mais presentes e de química quase perfeita com o “talk show” e seu público ao longo de anos, principalmente o mais jovem - não negou fogo.
Convidada para estrelar um espetáculo todo seu, Marina não só justificou o título. Ela o mereceu “com lauda”, como se dizia e fazia antes nos melhores colégios e universidades do País, para assinalar méritos de alunos e professores. No tempo, evidentemente, em que o mérito era o que mais honrava e importava em uma escola.
O que se viu e ouviu a partir daí, até o “boa noite”de despedida, em plena madrugada já da quarta-feira, foi algo cada vez mais raro em nossa TV e outros meios de comunicação, eletrônicos ou impressos. Uma conversa tocada o tempo inteiro, dos dois lados, com marcas evidentes de paixão e emoção - política, pessoal e profissional - mas sem perder o foco principal: Verdade, boa informação, conhecimento e ótimas tiradas de humor inteligente. Forma e conteúdo de primeira qualidade.
Além, diga-se a bem da verdade, da ausência de máscaras e subterfúgios tão habituais nas conversas em que uma das partes anda metida na política ou no governo em preliminares de disputa de campanha eleitoral .
Uma aula de política, jornalismo e humanidade em plena madrugada. Jô, no meio e no fim da entrevista que merece reprise, apertou a garganta e conseguiu controlar as lágrimas, mas sem esconder seus sentimentos do começo ao fim.
Fale quem quiser falar. Urrem os torcedores deste insuportável Fla x Flu que tenta reduzir praticamente tudo, nos discursos e debates da política brasileira destes dias de vazio e indigência intelectual, a um jogo de mesmices.
Um confronto entre petistas e tucanos, que atuam dentro de campo como protagonistas, enquanto os eleitores ficam na arquibancada como meros espectadores, na definição tão simples quanto feliz, entre outras, da entrevistada. Quem não foi para a cama sem ele, como pede a chamada da Rede Globo, certamente viu e ouviu um Programa do Jô para não esquecer.
Há muitas reproduções da entrevista rolando em vídeos pela Rede, a WEB evidentemente, para quem perdeu no original. Ainda assim, vale destacar antes do ponto final destas linhas, alguns instantes marcantes, a exemplo daquele em que Marina se compara com a Madre Teresa de Calcutá, ao falar sobre o seu dilema entre ficar enclausurada, remoendo mágoas, depois da estranha e para ela inesperada decisão do TSE de rejeitar o reconhecimento da Rede Sustentabilidade, ou tentar a virada ingressando em outro partido.
“Se nós nos recolhêssemos, seríamos cobrados. Se eu fosse para outro partido (no caso o PPS de Roberto Freire) todos iriam dizer que estava indo para um partido de aluguel”, disse ao explicar a noite sem dormir, reuniões e conversas “duras e delicadas”, até desaguar na opção pelo PSB, do governador de Pernambuco, Eduardo Campos.
Ou quando Marina explica o significado da flecha de duas pontas do sugestivo colar feito por ela mesma, na atividade artesanal que desenvolve a conselho de amigos, para relaxar em intervalos da intensa atividade política e de vida. Ou ainda quando declara que seu objetivo de vida não é ser presidente da República. Se achar quem realize as suas propostas contidas no programa de governo da Rede, poderá seguir “na carreira de professora que tanto me realiza e me faz feliz”.
Palmas explodem no auditório da TV, com a participação do próprio apresentador. Que professora! Encontre um vídeo do Programa do Jô, e confira.
Vitor Hugo Soares é jornalista. Edita o site blog Bahia em Pauta.
E-mail: vitor_soares1@terra.com.br
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