Sandra Starling
A ressaca produzida pelo voto de desempate do decano do STF, ministro Celso de Mello (que já está sendo chamado nas redes sociais de “deucano”), gerou – ao contrário das ressacas verdadeiras – um efeito muito auspicioso: o Supremo despenca do pedestal e cai na roda de discussões sobre a República que precisamos fundar!!!
Nunca pensei que tantos e em tantos lugares fossem estar comentando decisões de tão aristocrático colegiado. Espero até que, a partir de agora, Suas Excelências adentrem o Excelso Sodalício despidos das capas pretas que os transformam em morcegos negros e que nenhum deles precise mais de alguém para, majestosamente, ajeitá-los nas cadeiras. Com a exceção óbvia dos que, como Joaquim Barbosa e o próprio Celso de Mello, pobres mortais, sofrem de dores insuportáveis na coluna.
Precisávamos mesmo desse banho de fim de pompas e circunstâncias. Tenho escrito inédito em que me deixo levar pelo sentimento que me arrebata em Brasília. Ali indago por que o poderoso primeiro-ministro do Reino Unido mora (e governa) em uma casa comum, a Downing Street nº 10, enquanto nesta terra todo mundo tem um palácio: em Brasília, há o da Alvorada, o do Planalto, o do Jaburu e o do Buritis. Se o leitor pensar bem, todo Estado da Federação também tem seu palácio. Haja tanto palácio para abrigar tão poucas “excelências”, termo que, no vernáculo, significa “quem possui qualidade superior”…
CASCA DE BANANA…
No julgamento da Ação Penal Ordinária 470, ou mensalão, caíram as “excelências” e, claro, valeu a excelência de raposa do jurista Márcio Thomaz Bastos que, useiro e vezeiro advogado de causas, tantas causas, jogou a casca de banana para que o decano escorregasse e adiantasse seu julgamento:
“Então, trata-se de uma ‘bala de prata’?”, perguntou o arguto defensor. Ao que, ingênua ou conscientemente, aparteou-lhe o decano:
“Claro que ainda haverá a possibilidade de interposição de embargos infringentes do julgado”. Incrível, não?! Desde que esse diálogo ocorreu, em agosto do ano passado, fiquei com a pulga atrás da orelha.
Quando as máscaras caem, começa, de fato, o baile. E o Brasil andava precisando de bailes e bailes, com máscaras ou sem máscaras, como quiserem os mais novos, que “herdarão a Terra”. Esse mais do que valeu. Como diria Vandré, fez com que as visões fossem se clareando…
Agora, vamos arregimentar a paciência dos prazos e mais prazos e ver o final dos finais da ampla defesa dos que podem nesta esfarrapada República. Aguardemos, ademais, o julgamento do mensalão do PSDB e de outros tantos quantos que sempre praticaram aqui esse pecado. O problema do pecado do PT foi o fato de que o partido, esse que eu mesma ajudei a fundar, havia jurado fazer as coisas de forma diferente.
E agora só nos restam como vestais os da Academia Brasileira de Letras, embora lá estejam alguns que, a meu ver, não mereceriam a honraria. Mas são todos mortais também, do que nos é prova o próprio mausoléu da ABL no cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. (transcrito de O Tempo)
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