Murilo Rocha
A presidente da República, Dilma Rousseff, tem toda a razão de mostrar-se indignada com as ações de espionagem dos Estados Unidos sobre o governo brasileiro, incluindo aí a intromissão na privacidade da própria presidente. Ela está certa de exigir explicações formais, de contatar a Organização das Nações Unidas (ONU) e de cancelar uma visita agendada ao presidente Barack Obama. Tudo isso faz parte de um protocolo diplomático esperado diante das revelações de bisbilhotagem internacional.
Na prática, porém, o Palácio do Planalto sabe tratar-se de mera formalidade, um espernear inócuo, pois nada irá mudar. Obama pode até chegar a desculpar-se, mas as ações de inteligência e de espionagem de seu governo vão continuar trabalhando a todo vapor mundo afora. No caso do Brasil, como veio à tona, os norte-americanos têm especial interesse em informações sobre o pré-sal e nas relações próximas do país com a Venezuela, a Bolívia e o Irã – nações inimigas da Casa Branca.
Histórias de espionagem entre países não são novas, e a surpresa de autoridades brasileiras diante desse último episódio expôs a fragilidade do sistema de defesa a informações estratégicas do Brasil. Só agora o governo cogita o uso exclusivo de contas de e-mail próprio e o fim da troca de mensagens oficiais por meio de contas como a do Gmail, do Google. O Planalto também já decidiu o envio para o Congresso de uma legislação punitiva para empresas “colaboradoras” com a espionagem internacional. Podem até ajudar, mas essas medidas não irão coibir o ímpeto de países como os Estados Unidos.
JUSTIFICATIVAS
Sempre sob a alegação de ameaça à segurança interna e de leis antiterrorismo, norte-americanos, ingleses e outros aliados da política norte-americana vão fazer suas legislações prevalecerem em relações multilaterais. A diplomacia mundial também está subjugada à lei do mais forte.
Um bom exemplo disso é o caso de espionagem e contraespionagem envolvendo Cuba e os Estados Unidos na década de 90. A operação Vespa, narrada em detalhes e recheada de documentos oficiais e entrevistas com autoridades dos dois países no excelente livro “Os Últimos Soldados da Guerra Fria”, do jornalista Fernando Morais, dá a dimensão de como as relações internacionais são mediadas de forma desigual.
O livro conta a história de cinco cubanos presos nos EUA, desde 1998, por terem sido infiltrados por Havana junto com mais oito pessoas na Flórida, com o objetivo de descobrir e abortar planos terroristas contra Cuba financiados por dissidentes da ilha caribenha em solo norte-americano. Mesmo com o apelo de prêmios Nobel e de entidades como a Anistia Internacional, a Casa Branca se mostra irredutível em relação aos espiões cubanos. (transcrito de O Tempo)
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