CARLOS VIEIRA
A Feira Literária de Parati fez uma homenagem nesse ano a Graciliano Ramos (1892-1953). O “Velho Graça” completaria 150 de existência. Graciliano nasceu na pequena cidade de Quebrangulo, na zona da mata do Estado de Alagoas. Romancista, cronista, contista, jornalista, político e funcionário público.
Seus romances, Caetés(1925); São Bernardo(1934); Angústia publicado em 1936; Vidas Secas(1938); Infância publicado em 1945; Insônia, publicado em 1947 e Memórias de um cárcere, publicado postumamente, deixaram um acervo literário que canta em prosa as vicissitudes da realidade social do nordeste brasileiro.. Escreve também, um livro belíssimo de Carta de amor à Heloísa, sua esposa, publicado em 1922. Graciliano teve incursão na política, tendo sido Prefeito de Palmeira dos Índios; Secretário de Educação do Governo de Alagoas e Inspetor Federal de Ensino Secundário do Rio de Janeiro.
Muitos outros dados biográficos poderiam informar mais sobre o nosso escritor, mas o que desejo enfatizar hoje é um aspecto atualíssimo desse nosso ícone da Literatura Brasileira.
Em seu livro – Linhas Tortas- lançado pela Editora Record, Rio de Janeiro-São Paulo em 2005 ( 21ª.Edição ) , nova edição baseada na primeira, em 1962 pela Editora Martins Fontes, encontram-se belas crônicas. Quero me referir à crônica que nomeia seu livro, “Linhas Tortas”.
Preocupado com a reforma da Constituição Brasileira, Graciliano desfila uma denúncia por demais atual, uma denúncia ao Poder Político. Tomo a liberdade de citar fragmentos dessa escrita, uma vez que lendo, pareceu-me que o Alagoano já tinha consciência de fatos que até hoje existem em nosso país.
“A constituição da república tem um buraco. É possível que tenha muitos, mas sou pouco exigente e satisfaço-me com referir-me a um só.
Possuímos, segundo dizem os entendidos, três poderes – o executivo, que é o dono da casa, o legislativo e o judiciário, moços de recados, gente assalariada para o patrão fazer figura e deitar empáfia diante das visitas. Resta ainda um quarto poder, coisa vaga, imponderável mas que é tacitamente considerado o sumário dos três
...Aí está o rombo na constituição, rombo a ser preenchido quando ela for revista, metendo-se nele a figura interessante do chefe político, que é a única força de verdade. O resto é lorota... Todos eles são mais ou menos chefes. Não se sabe bem de que, mas é certo que o são. Graúdos, risonhos, nutridos, polidos, escovados, envernizados, lá estão inchando, inchando. São os grossos batráquios da lagoa republicana.
Muito menos volumosos, coaxam pelos cantos chefitos incolores, numerosos, em chusma, minúsculas pererecas de poças d’água... São, a um tempo, intendentes ou prefeitos, juízes, promotores, advogados e jurados, conselheiros municipais, comissários de polícia e inspetores de quarteirão. Realizam a pluralidade na unidade!
E ainda há quem duvide do mistério da Santíssima Trindade...
Ponha-se, pois, o chefe político no galarim e mande-se à fava o resto. Metam-no, honestamente, em letra de forma. Entre ele, triunfante, com armas e bagagens, em nosso magno estatuto.
Peguemos o chefe político, agitemo-lo no ar e berremos o estribilho com que a imprensa, há tempos, nos anda a amolar – A constituição da república precisa de uma rescisão. In Jornal de Alagoas – Maceió, AL, março de 1915.”
Seus romances, Caetés(1925); São Bernardo(1934); Angústia publicado em 1936; Vidas Secas(1938); Infância publicado em 1945; Insônia, publicado em 1947 e Memórias de um cárcere, publicado postumamente, deixaram um acervo literário que canta em prosa as vicissitudes da realidade social do nordeste brasileiro.. Escreve também, um livro belíssimo de Carta de amor à Heloísa, sua esposa, publicado em 1922. Graciliano teve incursão na política, tendo sido Prefeito de Palmeira dos Índios; Secretário de Educação do Governo de Alagoas e Inspetor Federal de Ensino Secundário do Rio de Janeiro.
Muitos outros dados biográficos poderiam informar mais sobre o nosso escritor, mas o que desejo enfatizar hoje é um aspecto atualíssimo desse nosso ícone da Literatura Brasileira.
Em seu livro – Linhas Tortas- lançado pela Editora Record, Rio de Janeiro-São Paulo em 2005 ( 21ª.Edição ) , nova edição baseada na primeira, em 1962 pela Editora Martins Fontes, encontram-se belas crônicas. Quero me referir à crônica que nomeia seu livro, “Linhas Tortas”.
Preocupado com a reforma da Constituição Brasileira, Graciliano desfila uma denúncia por demais atual, uma denúncia ao Poder Político. Tomo a liberdade de citar fragmentos dessa escrita, uma vez que lendo, pareceu-me que o Alagoano já tinha consciência de fatos que até hoje existem em nosso país.
“A constituição da república tem um buraco. É possível que tenha muitos, mas sou pouco exigente e satisfaço-me com referir-me a um só.
Possuímos, segundo dizem os entendidos, três poderes – o executivo, que é o dono da casa, o legislativo e o judiciário, moços de recados, gente assalariada para o patrão fazer figura e deitar empáfia diante das visitas. Resta ainda um quarto poder, coisa vaga, imponderável mas que é tacitamente considerado o sumário dos três
...Aí está o rombo na constituição, rombo a ser preenchido quando ela for revista, metendo-se nele a figura interessante do chefe político, que é a única força de verdade. O resto é lorota... Todos eles são mais ou menos chefes. Não se sabe bem de que, mas é certo que o são. Graúdos, risonhos, nutridos, polidos, escovados, envernizados, lá estão inchando, inchando. São os grossos batráquios da lagoa republicana.
Muito menos volumosos, coaxam pelos cantos chefitos incolores, numerosos, em chusma, minúsculas pererecas de poças d’água... São, a um tempo, intendentes ou prefeitos, juízes, promotores, advogados e jurados, conselheiros municipais, comissários de polícia e inspetores de quarteirão. Realizam a pluralidade na unidade!
E ainda há quem duvide do mistério da Santíssima Trindade...
Ponha-se, pois, o chefe político no galarim e mande-se à fava o resto. Metam-no, honestamente, em letra de forma. Entre ele, triunfante, com armas e bagagens, em nosso magno estatuto.
Peguemos o chefe político, agitemo-lo no ar e berremos o estribilho com que a imprensa, há tempos, nos anda a amolar – A constituição da república precisa de uma rescisão. In Jornal de Alagoas – Maceió, AL, março de 1915.”
Carlos.A.Vieira, médico, psicanalista, Membro Efetivo da Sociedade de Psicanálise de Brasília e de Recife. Membro da FEBRAPSI e da I.P.A - London
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