sexta-feira, 26 de julho de 2013

'Mais Médicos': intransigência ou mercenários?

HÉLIO CHAVES


Imagem extraída da internetO grande foco dos debates atualmente na mídia e nas redes sociais tem sido, fora as reivindicações das ruas e a visita do Papa, a questão da saúde pública e o imbróglio causado pelo programa “Mais Médicos”, lançado pela presidente Dilma Rousseff, dias atrás. O governo federal defende a proposta com unhas e dentes e a dmite que o sistema de saúde pública está longe do desejável, principalmente nas periferias e no interior do país.
Segundo o governo, a falta de estrutura é um fator, mas a contratação de profissionais de saúde para suprir carências nas periferias e nas cidades interioranas não pode esperar. Ela é crucial para a melhoraria do sistema público. O fato é que muitos médicos brasileiros se recusam a trabalhar nessas localidades.
Já as entidades representantes dos médicos querem impedir de todas as formas a contratação de estrangeiros para atuarem nessas áreas. Questionam a possibilidade de profissionais formados no exterior trabalharem sem revalidar o diploma e a falta de fluência da língua portuguesa, entre outras coisas. A queda de braço mantém pacientes sem assistência e a categoria batendo na tecla da falta de estrutura, de equipamentos, de segurança, condições mínimas de trabalho e de salários dignos, como a verdadeira causa de tudo.
Num programa de TV esta semana, o tema foi debatido com representantes dos médicos contrários ao “Mais Médicos”. Eles repetiam exaustivamente que há médicos suficientes para atender a população brasileira. Os dados apresentados dão conta de que no Brasil há cerca de 1,8 médicos para cada 10 mil habitantes, segundo eles, número suficiente, já que no Japão e EUA a média é de 2,2 médicos para cada 10 mil.
“A falta de atendimento não ocorre por falta de médicos, mas sim, pela má gestão e distribuição dos profissionais existentes no país” afirmam. Se existem, onde estão? Se faltam médicos, porque isso ocorre somente ou exclusivamente na rede pública de todo o país.
A resposta pode estar numa reportagem exibida no mesmo programa. A gravação mostrou um hospital público em situação precária de um lado da rua e do outro lado da mesma rua diversas clínicas particulares explorando a falta de atendimento no vizinho. As consultas partiam dos R$ 100,00 e os exames mais simples dos R$ 17,00. Médicos não sei, mas mercenários do outro lado da rua...
Todos sabem que o sistema de “saúde publica” brasileiro está na UTI. Agora, negar que diversos profissionais preferem trabalhar nos grandes centros em seus consultórios, clínicas ou hospitais particulares é afrontar a inteligência alheia. Profissionais devem ser livres nas suas escolhas, mas tentar impedir que outros exerçam a profissão e salvem vidas em lugares inóspitos, com pouca ou quase nenhuma estrutura, é uma prática corporativa-radical inaceitável.
“Brasília está no centro do poder. Os hospitais públicos daqui não são padrão primeiro mundo e não estão caindo aos pedaços, mas o atendimento e desumano. Uma jovem quebrou a perna em meados de junho, mas só conseguiu fazer a cirurgia para correção um mês depois. Foram várias marcações e remarcações, mas a proeza de conseguir a tão esperada cirurgia só foi possível devido a muita pressão de familiares e denúncias feitas à mídia local.”
Os familiares não tinham como pagar pela cirurgia na rede particular, que cobrava em média R$ 15 mil pelo ato. Durante o calvário a direção do hospital público dizia num dia não ter cirurgião, no outro falta do anestesista. Haja paciência, pois, pacientes sem "Mais Médicos" e sem dinheiro no Brasil é que não faltam!
Hélio Chaves é jornalista colaborador da Rádio do Moreno.

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