Mauricio Savarese
Há um ano muitos londrinos faziam as malas: queriam estar longe antes da invasão de estrangeiros. Os visitantes já pairavam sobre a zona leste, a mais carente, onde foi erguido o Parque Olímpico. E isso deixava o centro da maior cidade da Europa completamente às moscas, deprimente.
Agora a história é diferente: poucos lugares estão mais elétricos do que aqui. Os comerciantes só agora entendem que se o evento afasta gente no ano em que acontece, multiplica a presença depois.
Meu restaurante preferido é o de uma armênia que vive na cidade há 30 anos. Só não teve prejuízo nas Olimpíadas porque fechava muito tarde. Fica ao lado de onde jornalistas desembarcavam já no fim de noite. Uma semana depois dos Jogos, fui o único cliente em um sábado de verão. Agora a situação é diferente.
“Se não fosse pela imprensa naquelas semanas, eu teria demitido garçonetes, fechado mais cedo. Agora eu estou pensando em contratar mais, estamos sempre cheios”, disse.
Uma caminhada pela praça Leicester, a mais turística da cidade junto da Trafalgar, dá a mesma impressão. Meninas do Leste Europeu torrando ao sol de 30 graus, filas de asiáticos cheios de compras, novos restaurantes com espera de até meia hora para entrar e, como não podia deixar de ser, britânicos caindo pelas tabelas de tão bêbados.
Praça Leicester. Foto: Dani Delanos
Tudo muito diferente do verão de 2012, quando os londrinos que ficaram ainda temiam terrorismo e novos confrontos como os que balançaram o país no ano anterior. “Eu vendi muito menos nas Olimpíadas. Eu entendo, se pudesse também teria saído daqui”, me disse Jawal, um sorveteiro que conheci exatamente naquela época.
Ainda assim, igual a outros britânicos que conheço, ele não entende que o movimento acelerado de agora também tem a ver com as memórias que as Olimpíadas deixaram. “Ano passado foi muito ruim. Preferiria um verão como o de sempre.” E este ano, teria sido tão bom sem os Jogos de 2012, pergunto?
“Ah, mas aí é porque a economia começou a melhorar.” A expectativa daqui é de pibinho de menos de um por cento de crescimento.
Esse verão londrino me dá uma sensação de Rio em janeiro de 2017. As mudanças provavelmente vão estar lá, mas é alta a chance de acharmos outras justificativas para não darmos o braço a torcer após as críticas que faremos nos próximos anos.
Mauricio Savarese é mestrando em Jornalismo Interativo pela City University London. Foi repórter da agência Reuters e do site UOL. Freelancer da revista britânica FourFourTwo e autor do blog A Brazilian Operating in This Area.Twitter: @msavarese.
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