sexta-feira, 28 de junho de 2013

Cartas de Seattle: Polêmica que nem todo cara pálida entende


Melissa de Andrade
Você, leitores do Blog do Noblat, me ajudem: tem algum nome de time no Brasil que possa ser considerado ofensivo?
Nos Estados Unidos, os times que adotaram o nome de “RedSkins” décadas atrás estão considerando mudar de nome. Uma escola em Port Townsend, a 100 quilômetros de Seattle, e outra em Idaho decidiram dar um basta e vão inventar título, logo e mascote novos.
Pressão não falta para o time da liga nacional de futebol americano Washington Redskins fazer o mesmo. Mês passado 10 membros do congresso enviaram cartas ao dono do time e à comissão da liga insistindo pela mudança. O dono do time, Dan Snyder, diz que não.
A raiz da polêmica é a conotação que o termo “red skin” ganhou com o tempo – uma maneira rude e despeitosa de se referir aos índios americanos. A tradução literal é “pele vermelha”.
E antes que se comece a ladainha que os Estados Unidos são muito exagerados na onda politicamente correta, tenho duas coisas a dizer. Primeiro, lembrem-se das discussões que levaram os brasileiros a adotar termos como “portador de necessidades especiais”. Segundo, o tópico gera muitos debates por aqui também, com defensores ferrenhos de cada lado.
Dan Snyder diz que não tem a intenção de ofender ninguém e que o nome do time não tem a conotação que, em outros contextos, poderia ter. Tem chefe de tribo indígena dando declaração de que não acha nada demais nisso tudo. Tem gente fazendo protesto pros times manterem a tradição e permanecerem com o nome que todos conhecem e aprenderam a amar.


Mas também tem muita gente – índios ou não – que acha que tem que mudar o nome, sim. Citando por exemplo que houve época em que os índios não eram bem-vindos em muitos estabelecimentos dos Estados Unidos, argumentam que nenhum outro grupo social é usado no contexto esportivo como mascote, o que seria . Que é preciso admitir que certas expressões podem levar a racismo e preconceito. E que seria um gesto de decência e sensibilidade dos times avaliar a questão e não contribuir com isso. E aí é bom lembrar que teve época em que índio não era bem-vindo.
Mudança em nome de equipe esportiva não é incomum por aqui. O time da NBA Washington Bullets virou Wizards para não ser associado com violência (“bullets” quer dizer bala). O Sonics virou Kings quando foi vendido para Oklahoma (ok, esse caso é diferente).
Mas se os americanos forem tão apegados aos times deles como somos no Brasil, imagino que esta seja mesmo uma decisão bem difícil.

Melissa de Andrade é jornalista com mestrado em Negócios Digitais no Reino Unido. Ama teatro, gérberas cor de laranja e seus três gatinhos. Atua como estrategista de Conteúdo e de Mídias Sociais em Seattl

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