Victor sempre me fez prometer. Desde que começou a falar me fazia jurar, de pés juntos, qualquer trato entre nós.
- Vou chegar mais cedo do trabalho hoje.
- Promete?
Nem sempre cumpria, mas prometia que a próxima promessa ia ter um final mais digno.
Hoje, com 16 anos, sou eu que faço ele prometer não experimentar drogas, voltar cedo e, principalmente, escovar os dentes antes de dormir.
De tanto prometer me vi, outro dia, fazendo promessas ao caixa do banco.
Agência lotada e eu esbaforida para sacar dinheiro enquanto falava ao celular e guardava as chaves do carro.
- 1.500,00 reais, por favor.
- 2.500,00 senhora?
- Alô Carlinha, passa pra o financeiro. Não moço, 1.500,00.
Converso com Erick do financeiro para saber quando o cachê do último trabalho vai ser depositado enquanto Wellington Wallace, era esse o nome no crachá do moço do caixa, pede meu cartão e senha. Erick explica que o valor será depositado em cinco dias úteis bem no momento que Wellington Wallace conta as cédulas.
Anoto na agenda a data do pagamento com o rabo de olho na lenta e tediosa contagem de Welly, apelido carinhoso para evitar a repetição de tantos Ls num só nome. Circulo com caneta vermelha o dia do cachê quando percebo que o caixa continua contando o dinheiro, mas a quantia já havia passado de 1.500 há pelos menos 500 reais.
- Erick, você sabe dizer para quando ficou programado o cheque do trabalho do shopping? Amigo, você contou errado.
- Não, senhora. Eu não contei errado.
- Contou sim colega. No comprovante tem 1.500 mas....
- A senhora está fazendo cinco coisas ao mesmo tempo e quer dizer que eu errei?
- O senhor poderia contar de novo, por favor? Erick, só um minuto, não desliga não.
- Não senhora, eu não posso contar de novo.
- Mas está errado Wellington.
- A senhora estava ao telefone e agora está atrapalhando o andamento do meu caixa. Saia da fila e conte seu dinheiro ali, bem longe, de preferência com o celular desligado.
- Wellignton, vamos fazer o seguinte; eu vou acreditar em você, colocar o dinheiro na bolsa e ir embora sem atrapalhar o seu trabalho. Mas se, por acaso, hoje ao final do expediente, seu caixa fechar negativo em 1.000,00 reais, você pensa em mim. Promete?
Eu, por exemplo, prometo de pés juntos, que sei fazer várias coisas ao mesmo tempo, inclusive contar.
Téta Barbosa é jornalista, publicitária, mora no Recife e vive antenada com tudo o que se passa ali e fora dali. Escreve aqui sempre às segundas-feiras sobre modismos, modernidades e curiosidades. Ela também tem um blog - Batida Salve Todos.
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