sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

CRÔNICA Cartas de Seattle: Moço, sua calça caiu



E aí você está distraído no metrô quando todo mundo ao seu redor começa a baixar a calça. Todo mundo, não. O menininho de uns quatro anos vira a cabeça de um lado para o outro para não perder nada. O moço com cara de turista arregala o olho e passa a procurar uma câmera escondida.
A senhorinha ali no canto baixa lentamente o queixo. As calças vão parar dentro da mochila e todo mundo continua o que estava fazendo antes. Todo mundo, não. Ainda tem um par de olhos arregalados, uma boca entreaberta e uma cabecinha tentando entender o que está acontecendo.
Fingir normalidade é parte da graça para os participantes do No Pants Subway Ride (algo como Viagem de metrô sem calças). A brincadeira começou em Nova Iorque em 2001 com sete pessoas, mas bem que poderia ter sido criada em Seattle, pelo tom transgressor light e a irreverência divertida do que eles chamam de celebração da tolice.
A edição deste ano, no último domingo, reuniu dezenas de milhares de pessoas sem a parte de baixo da roupa em 60 cidades de 25 países.
Há cinco regras para participar: pagar pela passagem; tirar a calça quando estiver no metrô; manter a pose e não comentar o que está acontecendo; vestir roupa de baixo composta – quem estiver com algo provocante vai ser convidado a colocar a roupa de volta; e levar uma bolsa ou mochila pra guardar a calça durante o evento.

Foto: - Reprodução Joshua Trujillo - Seattle PI.com

E dá-lhe executivo de terno com cueca samba-canção de super-homem, hippie com sunga de lycra rosa bebê e velhinha com bermuda de ginástica colada. Todos com cara de que não há nada demais em enfrentar o frio de 3 graus Celsius que fazia em Seattle no domingo vestindo apenas metade da roupa.
Para quem está vivendo o auge do calor tropical não há nada mais comum do que ver pernocas de fora. Mas depois de pelos menos dois meses de corpos escondidos sob camadas de proteção contra o frio, a visão de coxas desnudas chama mesmo a atenção. Ainda mais com o contraste da parte de cima do corpo, que mantém o aparato completo de inverno – casacos, cachecóis, luvas, gorros e botas.
Para os mal-humorados que repreendem a tiração de onda coletiva, os organizadores respondem que sempre é tempo de lembrar que cada dia é uma chance de algo único acontecer. Mesmo que seja ver a cueca alheia.

Melissa de Andrade é jornalista com mestrado em Negócios Digitais no Reino Unido. Ama teatro, gérberas cor de laranja e seus três gatinhos. Atua como estrategista de Conteúdo e de Mídias Sociais em Seattle, de onde mantém o blogPreview e, às sextas, escreve para o Blog do Noblat.

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