sábado, 5 de janeiro de 2013

CRÔNICA Cartas de Buenos Aires - Linha A: polemica sobre os trilhos



Começaram a circular em 1913, a cidade já era uma grande metrópole, com cerca de 1,5 milhão de habitantes.
Foram os primeiros da América Latina, únicos nesta comarca do mundo e uma verdadeira maravilha da modernidade para a época.
Os vagões de madeira, com assentos em couro escarlate e capacidade para 42 passageiros sentados e 140 em pé cada um, rapidamente se transformaram num clássico portenho.
Buenos Aires passou a ser a 13ª cidade do mundo com o serviço subterrâneo. No dia seguinte à sua inauguração, viajaram na linha A mais de 170 mil passageiros.
Cem anos transcorreram desde que os portenhos se meteram pela primeira vez nas entranhas da cidade, fazendo do metrô, ou subte como chamamos por aqui, um dos transportes mais populares da capital.
Hoje, a linha A tem mais de 10,7 km de trilhos que vão da Plaza de Mayo à estação de Carabobo.
Além das milhares de pessoas que viajam todos os dias para alguma das 16 estações que a linha congrega, a linha A ganhou ainda importância turística depois que muitos viajantes se encantaram pelo charme antigo de seus vagões de madeira.

 
 Foto: Télam

Mas o metrô mais antigo em circulação no mundo periga virar lenha para churrasco, literalmente.
O Governo da cidade, a cargo de Maurício Macri, resolveu fechar o serviço por dois meses e substituir os vagões antigos por outros novos, chineses. Face às pressões que vem sofrendo, informou que zelaria pela preservação de alguns dos vagões. A ver.
Não é a primeira vez que o Governo da cidade demonstra desinteresse pelo patrimônio. Prédios históricos caem aos pedaços (quando não são demolidos), praças emblemáticas são cimentadas, lugares legendários fecham suas portas, entre outras atrocidades urbanísticas.
Horácio Rodriguez Larreta, chefe de gabinete de Macri, chegou a dizer, durante uma entrevista de rádio, que a madeira dos vagões podia servir para um bom churrasco.
O Governo argumenta que a substituição dos vagões é uma questão de segurança. No entanto, a linha A é considerada uma das mais seguras da rede, registrando número baixíssimo de avarias e acidentes.
Além disso, vários especialistas já garantiram que os vagões poderiam ser facilmente adaptados e modernizados. 
Cidadãos e ONGs lutam para que os vagões sejam mesmo preservados, como aconteceu com o antigo metrô de Budapeste, que funciona como atrativo turístico durante fins de semana e feriados.
Resta torcer para que esse não seja o fim da linha para os vagões belgas e para que Macri, descarrilado, acorde para a importância dos antigos bondes e não perca o trem da história.

Gabriela G. Antunes é jornalista e nômade. Cresceu no Brasil, mas morou nos Estados Unidos e Espanha, antes de se apaixonar por Buenos Aires. Na cidade, trabalhou no jornal Buenos Aires Herald, mantém o blog Conexão Buenos Aires e não consegue imaginar seu ultimo dia na capital argentina. Estará aqui todos os sábados.Quando os vagões belgas La Brugeoise da linha A do metrô de Buenos Aires c

Nenhum comentário:

Postar um comentário