I
Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse
Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.
E deslizando apenas, nem tocar a margem.
Te olhei. E há tanto tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta
Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.
E mais atento.
II
Ama-me. É tempo ainda. Interroga-me.
E eu te direi que o nosso tempo é agora.
Esplêndida avidez, vasta ventura
Porque é mais vasto o sonho que elabora
E eu te direi que o nosso tempo é agora.
Esplêndida avidez, vasta ventura
Porque é mais vasto o sonho que elabora
Há tanto tempo sua própria tessitura.
Ama-me. Embora eu te pareça
Demasiado intensa. E de aspereza.
E transitória se tu me repensas.
Demasiado intensa. E de aspereza.
E transitória se tu me repensas.
Hilda de Almeida Prado Hilst (Jaú, 21 de abril de 1930 - Campinas 4 de fevereiro de 2004) - Foi poeta, ficcionista e dramaturga. Considerada uma das mais completas personalidades literárias do Brasil. Formou-se na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e começou, ainda estudante, a escrever poesia, passando mais tarde para o teatro e a ficcção. Recebeu os mais importantes prêmios líterários do Brasil, entre eles o Jabuti, Cassiano Ricardo e o Prêmio Moinho Santista.
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