Tuvia Tenenbom tem uma história interessante. É jornalista e escritor... nasceu em Israel, mas morou a vida toda em Nova York. Seus pais são sobreviventes do Holocausto, por isso tem uma história com a Alemanha.
Fundou o primeiro e único teatro judeu em língua inglesa da cidade. Já publicou vários livros, entre eles alguns sobre a Alemanha e sua história. Sua especialidade são sátiras e crônicas, às vezes mexendo em feridas históricas. Digamos que pisar em ovos não é com ele, que perde o amigo judeu... mas não a piada. Detalhe: antes de se tornar escritor, ele já havia sido rabino ortodoxo.
Qual não foi a minha surpresa ao descobrir que ele tem uma coluna no semanário alemão die Zeit. E ao ler seu último texto, ri muito do seu humor sarcástico e politicamente incorreto, típico de comediantes judeus americanos. É o relato de sua última viagem a Berlim, e um resumo de sua relação de amor e ódio com a Alemanha.
Tudo começa já no voo Nova York-Berlim operado pela Lufthansa, a empresa aérea alemã que vez por outra entra em greve.
“As aeromoças da Lufthansa são as mais imponentes do mundo”, descreve, enquanto ouvia a pregação das moças para que assinasse uma petição a favor de reajustes salariais. “Peraí, mas vocês ganham quanto_”, pergunta Tenenbon, no que as aeromoças reagem como se ouvisse uma ofensa mortal. Tipicamente alemão.
O que mais odeia na Alemanha é a comida “incrivelmente deliciosa”. Em poucos dias, consegue engordar vários quilos, mas tem uma ideia incrível para emagrecer nesta viagem: participar de passeatas, “o esporte preferido do europeu”.
Por coincidência, acontecia em Berlim na ocasião uma manifestação de judeus e muçulmanos contra a medida que proibiria a circuncisão na Alemanha.
O punhado de gente que compareceu à passeata, ao contrário do que Tuvia esperava, não andou nem um metro. Ficaram plantados e ainda tiveram a cara-de-pau de vender bolos.
Desolado, reclama que “graças ao jeito do berlinense”, tem que esperar fechar o sinal para atravesssar a rua, o que, para um novaiorquino, é total perda de tempo. Lá, diz, se alguém atravessa no sinal vermelho, os carros naturalmente desaceleram ao ver o pedestre. Em Berlim, é diferente: “aí é que os carros apertam fundo e ameaçam passar por cima mesmo”.
“Quem desobedece a lei, merece a morte”, parafraseia uma amiga alemã, que jura ser paz e amor, odeia o exército e usa camisas do Che Guevara.
Ah, o paradoxo alemão! Obrigado, Tuvia Tenenbom. Virei sua fã.
*I Sleep in Hitler's Room: An American Jew Visits Germany, é o ultimo livro de Tenembom
Tamine Maklouf é jornalista e ilustradora nas horas vagas. Mora na Alemanha desde agosto de 2009, onde se encontra na “ponte terrestre” Dresden-Berlim. De lá, mantém o blog www.diekarambolage.wordpress.com
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