CRÔNICA
Desde 2006, a Nuit Blanche (noite em claro, em tradução livre) é o evento artístico que tira a grande maioria dos Torontonians da cama por uma noite em setembro. O evento original foi concebido em Paris em 2002 com o intuito de facilitar o acesso do grande público à arte contemporânea. Lá, mais de um milhão de parisienses tomam as ruas da cidade todos os anos. Por aqui, a Nuit Blanche se transforma numa das noites mais lucrativas da província de Ontário, avaliada em 37 milhões de dólares em 2011.
A essência da Nuit Blanche envolve 12 horas de experimentação artística em público. Hoje, os Torontonians que levam a sério a celebração despertam após percorrerem mais de 10 km pela cidade, incluindo duas universidades, a prefeitura, e diversos centros culturais.
A mostra desse ano contou com a participação de mais de 150 instalações artísticas, muitas delas com curadores oficiais e patrocínio.
Mas quem já viveu uma das Nuit Blanche de Toronto, sabe que o que faz a noite sem sono da cidade interessante é a interação do público com objetos inusitados, conceitos estranhos e a noite em si. Ano passado, por exemplo, uma das instalações mais populares envolvia canhões de fogo e malabares. A hipnosia inicial era gerada pela beleza no espetáculo, mas, na Nuit Blanche mais fria da história, a excitação da plateia se intensificava com o calor gerado pelo show.
A ideia de se iniciar uma jornada artística às 19:30 hrs que só termina com o nascer do sol tem também um fundamento sensorial. A exaustão mental e física da maratona acaba influenciando a forma em que muitos passam a ver as instalações do evento.
Os sentidos mudam com o passar das horas e a mesma obra vista as 8 da noite pode despertar emoções diferentes às três da madrugada. Para os amantes da Nuit Blanche, a noite em claro se transforma em uma verdadeira jornada mental com o passar das horas.
Daqui, fico imaginando um evento parecido no Rio. Nossa história artística é tão rica que uma viagem sensorial pela nossa arte nos permitiria viver a nossa cultura de uma forma diferente. Em tempo de eleição, será que os candidatos a prefeito se preocuparam em incluir um plano detalhado sobre futuro das artes carioca em suas plataformas de governo?
Veronica Heringer é jornalista formada pela PUC-Rio, mestranda em media production pela Ryerson University e estrategista em marketing digital. Bloga noMadame Heringer.com e escreve para o Blog do Noblat aos domingos.
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