Enviado por Luis Fernando Veríssimo -
1.7.2012
| 10h03m
GERAL

“Apreciar” significa distanciamento, um prazer puramente estético sem outro tipo de envolvimento. Quem gosta mesmo de futebol geralmente gosta desde pequeno, e tem time. É um apaixonado, e um apaixonado não “aprecia”.
Um apaixonado se envolve. E vendo esses jogos da Eurocopa me ocorreu que o sentimento mais apaixonado, portanto menos estético e mais genuíno, que se pode ter em relação ao futebol bem jogado é o ressentimento. Um apreciador do futebol se encanta com uma trama do time espanhol que vem sendo costurada lá de trás, no famoso toque-toque do Barcelona transformado em estilo nacional, e que quase sempre acaba com um atacante concluindo dentro da pequena área.
Um apaixonado — principalmente se o seu time não estiver bem — se sente afrontado pela trama perfeita. Seu pensamento é: se eles podem, por que o meu time não pode? Rancor e inveja são os sentimentos mais verdadeiros de um apaixonado por futebol vendo o bom futebol dos outros.
Quanto melhor o futebol sendo visto, maior a revolta. Onde estão o Xavi e o Iniesta do meu time? Por que um Schweinsteiger e um Pirlo estão brilhando lá e não aqui no meu meio-campo?
O toque-toque da Espanha não funcionou contra Portugal, o que nos encheu de alegria. De certa maneira, o fracasso de grandes times desagrava a mediocridade do nosso. Se Portugal pode parar a Espanha é porque a perfeição não existe e ainda temos esperança.
A Alemanha que perdeu para a Itália na quinta-feira lembrou a Alemanha da Copa da África do Sul, quando pintou como o grande time do torneio num jogo e deu vexame no outro. A grande imagem do jogo Alemanha e Itália — e nisto o apreciador e o apaixonado podem concordar — foi a do Balotelli depois de marcar o segundo gol italiano.
Vítima costumeira de insultos racistas, Balotelli arrancou a camiseta e ficou parado, uma estátua dele mesmo numa pose de guerreiro africano, ostentando desafiadoramente a sua negritude e seu orgulho até ser quase derrubado pelos companheiros no festejo do gol.
No meio da semana houve o empate do Corinthians com o Boca em Buenos Aires e um episódio que nos consola, já que só o futebol brasileiro é capaz de produzi-lo.
Um tal de Romarinho, recém-contratado pelo Corinthians, e que já fizera dois gols no Palmeiras no domingo anterior, entrou quase no fim do jogo, fez o gol do empate na sua primeira jogada e transformou-se num desses fenômenos instantâneos que nos redimem.
Já é um herói, já deve estar tratando dos seus primeiros contratos publicitários e terá um grande futuro. Infelizmente no Corinthians, e não no nosso time. Danação!
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