domingo, 1 de julho de 2012

OBRA-PRIMA DO DIA (GRANDES BIBLIOTECAS) Arquitetura: Biblioteca Joanina (1728)

O Conde Athanasius Raczinsky, embaixador da Prússia em Lisboa, homem muito culto e colecionador de raridades bibliográficas que guardava em seus palácios, um dos quais viria a ser o célebre Reichstag de Berlim, foi um dos mais conceituados críticos de arte do século XIX. Em suas notas sobre o tempo que viveu em Portugal e as obras de arte que lá encontrou, deixou registrado sobre a Biblioteca Joanina: "la bibliothèque la plus richement ornée que j'aie jamais visitée".
Não há exagero algum nas palavras do conde. É uma jóia magnífica da qual a Universidade de Coimbra muito se orgulha e da qual cuida com enorme carinho.


Seu início foi semelhante ao de outras bibliotecas universitárias. No século XV, sua sede era em Lisboa. Enviada para o Paço Real de Coimbra, onde o então chamado Estudo iria se instalar, ocupa a sala do guarda-roupa, vizinha à Sala Grande (hoje Sala dos Capelos), passa a ser chamada de Casa do Livro e é confirmada como biblioteca pública.
O que não dura muito: com a Reforma Católica do Concílio de Trento, a biblioteca deixa de ser pública, apesar dos sucessivos estatutos assim insistirem.
Durante muito tempo, as bibliotecas importantes eram as dos colégios universitários, como o da Companhia de Jesus ou o de São Pedro, onde os autores e pesquisadores estudavam e se alojavam.
Foi só no final do século XVII, com a criação dos chamados Gerais Universitários, que a existência da biblioteca de Coimbra seria consagrada.

Mas era preciso reformar e ampliar a sala onde se encontrava, em um palácio já com 700 anos! Os livros foram então recolhidos ao segundo andar, à espera do término das obras e nisso se passaram muitos anos até que, em 1716, o reitor se dirige ao rei D. João V e lhe faz ver que ao contrário do que os Estatutos da Universidade rezavam, Coimbra não tinha uma sala à altura do acervo acumulado.
Obtida a autorização do rei, foi nesse ano que começou a construção dessa que é, sob todos os aspectos, uma das mais importantes bibliotecas do mundo. Abaixo foto do exterior, no Largo da Porta Férrea, Coimbra.


Em seu riquíssimo acervo encontram-se “A Bíblia Latina de 48 linhas”, editada em 1462; o “Livro das Horas”, manuscrito com iluminuras, de meados do século XV; “Mensagem”, único livro de Fernando Pessoa a ser editado em vida do poeta, em 1934 (o exemplar é conservado na brochura original e tem dedicatória manuscrita do Autor); “Paesi novamente retrovatti”, organizado por Francesco de Montalboddo, impresso em 1507, compila relatos de viagens de descoberta (ou redescoberta) empreendidas por portugueses, espanhóis e italianos.
Trata-se da primeira vez que se editou em italiano a terceira viagem de Américo Vespúcio. Inclui um dos primeiros relatos publicados sobre a viagem de Pedro Álvares Cabral ao Brasil. Despertou grande interesse e com a presteza possível naquele tempo, foi editado também em latim e em alemão.

Universidade de Coimbra, Portugal

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