segunda-feira, 25 de junho de 2012

OBRA-PRIMA DO DIA - PINTURA Hieronimus Bosch - Ecce Homo (c.1475)


Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa - 
25.6.2012
 | 12h00m

Nascido c.de 1453 e falecido em 1516, Hieronymus Bosch foi um típico homem da Idade Média. O que o fez sobressair foi seu inacreditável talento, a imaginação transbordante e a inteligência que o mantinha alerta e dono de sua cabeça: acreditava em Deus e no Demônio, na Palavra do Evangelho, era um cristão fervoroso, mas tinha como verdade que o preço do pecado era o sofrimento aqui na Terra.
Já houve inúmeras teses atribuindo os mais variados intentos a Bosch, mas à luz dos estudos de hoje, mais apurados, sabe-se que seus quadros retratam sua fé. É quase que universalmente aceito que sua arte tinha a intenção de transmitir lições espirituais e morais e que as imagens têm sempre um significado preciso e premeditado.
Em 1480, registrou-se na guilda de sua cidade como pintor, mais um em sua família de gerações de pintores. O que o torna então uma figura especial nas Artes Plásticas? A resposta é simples: um estilo inconfundível que cria figuras demoníacas complexas: híbridos de insetos, répteis, pedaços de seres humanos e de peças de máquinas nunca vistos em nenhuma forma de arte.
Criando essas figuras entre o real e o irreal, marcadas pela temível ascendência do mal sobre o bem, Bosch inova na descrição cristã tradicional da vida após o Dia do Juízo Final, transmitindo sua crença pessoal que "aqui se faz, e aqui se começa a pagar".

O quadro acima, Ecce Homo, é para ser olhado detidamente. Cristo está fragilizado. A multidão escarnece dele, do Rei com Coroa de Espinhos. As pernas, braços e peito em carne viva atestam que ele acaba de ser flagelado. Seu algoz pode ser parcialmente visto à esquerda ainda com o açoite na mão.
Olhem com atenção e verão três inscrições em letras góticas e tinta dourada, como se fossem os balões dos atuais quadrinhos. Pilatos se dirige à multidão dizendo Ecce Homo e a resposta do povo é Crucifiquem-no!
Na parte inferior esquerda da tela, apagados posteriormente, estavam os patrocinadores do quadro e a legenda que os acompanhava diz Salve-nos, Cristo Redentor! (imagem à esquerda).
Outro detalhe notável são dois animais que na iconografia cristã da época encarnavam o mal: a coruja, num nicho na parede cerca de Pilatos, e um sapo enorme pousado no escudo de um guarda. A imagem não permite que se veja tudo muito bem, infelizmente.
No alto, à direita, a representação de Jerusalém que Bosch desenhou como típica cidade holandesa de seu tempo, o que contrasta vivamente com as figuras e as roupas da multidão e das autoridades.
Há um segundo 'Ecce Homo', no museu de Belas Artes da Filafélfia, mas exames´de datação concluiram que é posterior à morte de Bosch.
Dele existem sete telas assinadas e da obra que lhe foi por muito tempo atribuída, apenas 25 são registradas como de sua autoria. E os estudos não param. (Há quase 3 anos, da primeira série das Obras-Primas organizadas por mim aqui no Blog, ainda se acreditava que o quadro da Filadelfia era original. Eu usei aquela imagem... A cada vez que retomo um artista, tenho que verificar não só se ainda estão no mesmo acervo - o que algumas vezes não é o caso - como a autenticação mais recente das peças. Ainda bem que gosto do que faço e que sou gratificada pela leitura de vocês, fieis leitores do Blog...).  
De hoje até sexta-feira falaremos mais sobre esse fantástico criador de obras de pesadelo, feitas com o pincel que ele usava com mestria: o da ironia na defesa daquilo em que acreditava.
Têmpera e óleo sobre painel de carvalho. Mede 71 cm × 61 cm.

Acervo do Städel Museum, Frankfurt, Alemanha

Nenhum comentário:

Postar um comentário