Hélio Schwartsman
SÃO PAULO - Você seria um nazista? A maioria de nós responde sem hesitar com um "é claro que não". Somos vítimas fáceis de nossas narrativas. Se o nazismo é identificado ao mal e nós não nos julgamos maus, não podemos ser nazistas.
O problema, como mostrou reportagem de Carolina Vila-Nova, é que esse raciocínio é utilizado de forma excessivamente generalizada: metade dos alemães julga que, em suas famílias, todos eram contra o nazismo. Só 6% admitem o envolvimento de parentes com o regime hitlerista.
Pesquisas historiográficas sobre a disseminação do nazismo aliadas a uma série de experimentos psicológicos revelam que não devemos confiar tanto em nossas narrativas.
Uma das mais impressionantes dessas experiências foi conduzida por Philip Zimbardo em 1971. Ele recrutou 24 voluntários em boa saúde mental e os pôs num simulacro de prisão montado na Universidade Stanford. Num sorteio, parte do grupo ficou com o papel de guarda, e o restante, com o de prisioneiros. Os vigias foram autorizados a assustar os presos, mas nunca usar força contra eles. Qualquer um podia abandonar a "prisão" quando quisesse.
Logo as coisas saíram de controle. Os guardas começaram a mostrar-se cada vez mais cruéis para com os prisioneiros, que, após uma tímida tentativa de rebelar-se, foram aceitando castigos e humilhações. O próprio Zimbardo se deixou absorver pela situação. Foi só depois que sua namorada visitou o local e viu que limites éticos haviam sido rompidos que o psicólogo começou a questionar a moralidade da coisa. No sexto dia, o experimento, concebido para durar duas semanas, foi interrompido.
A moral da história, reforçada por outras experiências célebres como as de Milgram e de Darley, é que basta uma pressãozinha do grupo para uma pessoa normal se enfronhar na barbárie e julgá-la a coisa mais natural do mundo. É o que Hannah Arendt chamou de banalidade do mal.
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