quarta-feira, 25 de abril de 2012

Por que Blatter e Romário visitaram Havelange e Sarney (por Juca Kfouri)




A surpreendente visita de Joseph Blatter a João Havelange no hospital Samaritano, no Rio, no último fim de semana, tem uma explicação que ficou óbvia depois que o presidente da Fifa foi formalmente denunciado como cúmplice de corrupção no caso ISL em processo que envolve Havelange e Ricardo Teixeira.
Ele foi refazer seus acordos com quem deixou na chuva em meio ao escândalo eepois que o procurador da Justiça suíça deixou claro que não há nenhuma razão para a Fifa guardar sigilo dos nomes dos envolvidos (leia abaixo a notícia completa publicada hoje na “Folha de S.Paulo”, no diário “Lance!” e no “Estado de S.Paulo”).
Já o deputado Romário esteve em São Paulo para visitar José Sarney no hospital Sírio-Libanês porque, diferentemente do que aparentou enquanto manteve fogo aceso contra Teixeira, seu problema com a CBF e o COL se limitava a ser pessoal.
Tanto que além de se aproximar de José Maria Marin mantém, também, ótimas relações com Fernando Sarney, o mais que complicado filho do senador ex-presidente da República e vice-presidente da CBF.
CASO ISL
Procurador dá indício contra Teixeira em esquema de corrupção e complica Blatter
RODRIGO MATTOS
FOLHA DE S.PAULO
Um depoimento de um procurador suíço revelou dados oficiais que indicam o envolvimento do ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira e do ex-presidente da Fifa João Havelange no escândalo da ISL, maior caso de corrupção da história do futebol mundial.
Até hoje, o envolvimento do ex-dirigente da confederação era relatado pela BBC. Contra Havelange, havia indícios em processos judiciais.
As informações de Thomas Hildbrand, procurador do processo, as primeiras que explicam o caso apesar do sigilo judicial suíço, complicam o presidente da Fifa, Joseph Blatter. A entidade, que o tinha como secretário-geral à época, sabia dos subornos a dirigentes de sua cúpula.
Ao Conselho da Europa, órgão não governamental que investiga a Fifa, o procurador, em março, detalhou:
1. Nos anos 90, o grupo ISL comprou da Fifa direitos de marketing e TV das Copas.
2. Em 2001, a ISL entrou em falência, o que gerou ações de credores. Constatou-se subornos a cartolas. Um devolveu dinheiro, mas se iniciou o caso criminal em 2005.
3. Na ação, membro da gerência da ISL disse que “o favorecimento de personalidades no esporte” com dinheiro da empresa “datava de 1970″. (A ISL explorou direitos de Copas e Olimpíadas.)
6. A procuradoria constatou R$ 327,8 milhões em propinas para dirigentes.
7. Os dois cartolas da Fifa acusados na ação (denominados E e H) ganharam 21,9 milhões de francos suíços (R$ 26 milhões) através de empresas ou diretamente, de 1992 a 2000, em 30 pagamentos.
8. Um cartola estava na Fifa no início de março último, e o outro não. Eles eram sócios em empresa para receber da ISL. (Havelange e Teixeira eram os únicos membros do Comitê-Executivo da Fifa com relações comerciais no Brasil, além do parentesco.)
9. O “cartola H” era membro do comitê e presidente de “uma associação de futebol da América do Sul”. (Só havia dois, Teixeira e o argentino Júlio Grondona, que nunca foi implicado no caso ISL.)
10. O “cartola H” ganhou subornos de 12,7 milhões de francos (R$ 26,3 milhões). “H enriqueceu com o montante das comissões pagas”. Ele operou contas em Andorra -em nomes dos filhos- para devolver dinheiro à ISL.
12. O “dirigente E” ganhou 1,5 milhão de francos suíços (R$ 3,1 milhões). É um cartola “sênior da Fifa” e idoso.
13. “Ficou claro que o ISMM/ISL Group (…) pagou significativas somas a dirigentes de futebol, e a Fifa sabia disso e esteve envolvida na composição dos procedimentos”, disse Hildbrand.
O Conselho da Europa diz que é “difícil imaginar que Blatter não sabia disso [subornos]“. Ele não sofre acusação formal na ação.
O acordo para o final do caso ISL, em 2010, envolveu multas aos cartolas. Ações barraram a revelação dos nomes, e há briga na Justiça para publicá-los. A Fifa prometeu abrir, mas não o fez.
Teixeira renunciou à CBF uma semana após o depoimento de Hildbrand.

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