Ricardo Teixeira resignou no dia 12 de março e isto é motivo de comemoração comedida. A troca de presidente não altera as estruturas de poder que governam o esporte profissional espelho da cultura popular brasileira.
O ex-genro de João Havelange (e ainda seu protegido) renunciou ao magnânimo posto sobre a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) diante de forças superiores e múltiplos ataques, incluindo a perda de espaço na FIFA e o enfraquecimento de sua posição diante da realização da Copa do Mundo de 2014; incluindo a hostilidade do Executivo, não repetindo Dilma o comportamento de Lula para com ele.
Ao analisar as correlações de força do futebol competitivo brasileiro, chegamos a algumas certezas conceituais. Uma delas trata da dominação estrutural de dirigentes semi-profissionais que terminam por fazer do maior espetáculo nacional sua forma de vida através de renda não declarada.
Outra enfrenta a passividade do governo anterior – e do atual – que emparedou o todo poderoso Teixeira em função da mídia internacional e da FIFA e não por lealdade ao programa original da campanha de 2002.
A terceira certeza afirma ser o futebol uma indústria governada de fato pelas duras regras da economia política. Nestas os agentes hegemônicos ditam os padrões técnico-produtivos, como a exigência de elenco grande para atender o calendário múltiplo; estabelecem as barreiras à entrada de novos agentes, como as verbas advindas dos direitos de transmissão, onde Corinthians e Flamengo ganham mais que os demais membros da primeira divisão; e reforçam vínculos político-institucionais que blindam os possíveis réus-cartolas.
Assim procedeu na CPI da CBF-Nike, quando até o livro que dela saíra teve a edição apreendida.
A mudança de elites dirigentes é sempre positiva quando a estrutura dominada é injusta e a alteração foi fruto de lutas prolongadas (a exemplo de paladinos como o jornalista Juca Kfouri), denúncias recentes (vindas do escocês Andrew Jennings) e nova organização social (como a Associação Nacional de Torcedores).
Mas, apenas esta alteração não muda a natureza da instituição. É preciso modificar o processo decisório e aumentar o nível de participação. Saiu Ricardo Teixeira e entra José Maria Marin, um cartola com trajetória no malufismo. Por sorte Marin não é nada legítimo diante dos pares e pode – e deve - vir a cair antes da Copa de 2014.
Talvez seja esta a janela de oportunidade tão esperada para transformar as relações de poder que governam a paixão nacional.
Bruno Lima Rocha é cientista político
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