Não bastasse a devastação que o partido hegemônico – o PT – vem produzindo na política e na economia do Brasil ao longo dos últimos dez anos, temos agora um novo fator de desestabilização de nossas instituições democráticas. Trata-se do surgimento no seio dessa agremiação de um novo grupo radical, a Juventude do PT, facção jihadista do partido cujo ideário veio à luz no seu terceiro congresso, reunido em Brasília no último dia 20.
Conforme amplamente noticiou a edição de 21/11 deste jornal, naquele conclave a Juventude do PT mostrou todas as suas características fundamentalistas. Para começar, contesta a autoridade e as diretrizes do próprio chefe supremo do petismo, o mitológico Lula, que até esse fatídico dia 20 nunca fora questionado no interior de sua grei.
Acontece que, na presença augusta do amado e temido condottiere, os aguerridos jovens petistas negaram a sua autoridade para prosseguir com sua política de alianças político-partidárias e sua legitimidade para intervir na composição do Ministério. Para os jovens jihadistas, o PT não pode mais se apoiar nos “infiéis” de qualquer espécie ou origem, na medida em que representam os interesses da elite opressora: “Nem Meirelles nem Levy. É hora de parar de recuar. Fora já/ fora já daqui/ o Eduardo Cunha junto com o Levy”.
Para que ninguém duvide da radicalização de seus propósitos e de suas ações a Juventude do PT passa a cultuar heróis do povo brasileiro. E quem são eles? Nada mais, nada menos que notórios petistas condenados no mensalão e processados e julgados pela Operação Lava Jato. Para demonstrar a sua reverência à trupe de condenados afixaram uma enorme faixa com as figuras heroicas de João Vaccari Neto, Delúbio Soares, José Genoino, João Paulo Cunha e José Dirceu, encimados com os dizeres: “Heróis do povo brasileiro”.
Para os jovens revolucionários petistas os proclamados próceres condenados, não o foram por prática de crime de corrupção, mas por serem líderes do povo. Inscrevem-se esses heróis no conceito típico do jihadismo, o do sacrifício. Somente os líderes que experimentam a prisão são dignos de inspirar o movimento de redenção do povo brasileiro, não importando a natureza do crime que cometeram.
As características típicas do jihadismo são encontradas nessa surpreendente rebelião dos jovens petistas. Eles não aceitam mais lideranças fracas, como a do Lula, uma vez que este não logrou, em mais de uma década de poder, a instauração da revolução permanente, voltada para a redenção do povo brasileiro, nos estritos moldes bolivarianos.
Os grandes passos de destruição das instituições democráticas previstos na Carta de São Paulo não lograram nunca ser implementadas pelos frouxos governos petistas. Assim, nem Lula nem Dilma Rousseff conseguiram acabar com a imprensa livre por meio da malograda Lei de Controle Social. Não conseguiram também os dois sucessivos presidentes unificar as Polícias Militares estaduais sob o controle do partido. E ainda fracassaram vergonhosamente na imposição do decreto que submetia o quadro de promoções e de nomeações nas Forças Armadas ao crivo do Partido dos Trabalhadores.
Impõe-se desde já a revolução bolivariana. Para que isso se realize no Brasil – como já o foi, com grande sucesso, na Venezuela – inicialmente há que desmoralizar as instituições e as leis democrático-burguesas, de que resultou a condenação, entre nós, de líderes do povo, aprisionados e condenados sob o odioso pretexto de serem corruptos. E não se aceita mais a transigência dos líderes aburguesados do PT que ainda não foram presos e agora fogem covardemente desse sacrifício depurador.
As automotivações da Juventude do PT são, com efeito, tipicamente jihadistas. Primeiro: rompimento com as antigas lideranças petistas por terem contato com “infiéis”, o que é incompatível com a regra moral da revolução. Segundo: consagração de novos líderes espirituais que possam, por seu exemplo de sacrifício e de notória criminalidade contra o Estado burguês, justificar, por sua vez, todos os delitos que cometerão também contra a ordem pública os jovens petistas, visando à implantação no Brasil da República Socialista Bolivariana do século 21.
O clima desse 3.º Congresso da Juventude do PT foi de tal ordem constrangedor para os eternos e decadentes líderes do partido presentes (Lula, Rui Falcão et caterva) que o ex-presidente percorria, durante a sua arenga, toda a extensão da longa mesa dirigente dos trabalhos – indo e vindo sem parar –, num movimento típico de quem procurava uma porta dos fundos pela qual pudesse escapulir dos jihadistas enfurecidos. Durante o palavrório de Lula, os jovens ostentavam faixas e repetiam refrãos revolucionários que abafavam a fala do septuagenário líder, isso enquanto ele pedia o apoio deles ao combalido governo da sua sucessora.
Diante da nenhuma repercussão de seu pedido, Lula apelou para o perigo de o PT perder o poder em 2018 se não ganhar as eleições municipais de 2016. Acontece que o jovem núcleo jihadista do PT, inspirado em seus guerreiros do povo brasileiro – Vaccari, Delúbio, Genoino, João Paulo e Dirceu –, não está interessado em nenhuma eleição, próxima ou remota, mas sim na “revolución”, por meio de ações que pretende realizar para obstruir o funcionamento das instituições no País.
Eis mais um produto que o Partido dos Trabalhadores gerou para o País. Que desde já tomem precauções as autoridades constituídas no que se refere aos movimentos e às ações desse grupo, tendo em vista que se propõem a sacrificar a própria liberdade – e a dos outros – em prol de suas verdades revolucionárias, inquestionáveis e absolutas.
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