quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Osasco, pena de morte e as panelas - GUILHERME BOULOS

    
Guilherme Boulos
Formado em filosofia pela USP, é membro da coordenação nacional do MTST e da Frente de Resistência Urbana.
Escreve às quintas na Folha de São Paulo

Hoje faz uma semana da chacina que deixou 18 pessoas mortas na região metropolitana de São Paulo, 15 em Osasco e três em Barueri. Num intervalo de duas horas, homens encapuzados "tocaram o terror" e exterminaram vidas arbitrariamente.
Alguns dos homicídios foram antecedidos pela famosa pergunta "tem passagem?". "Sim". "Pow!". Na semana anterior ao massacre foi morto um policial militar em Osasco, o cabo Admilson Pereira de Oliveira, e um guarda civil em Barueri.
Os "indícios", tratados de forma tão cuidadosa quando são crimes praticados por policiais, em contraste com os "suspeitos" amarrados em postes e outras barbáries contra jovens pobres e negros, enfim, os indícios levam evidentemente a crer que trata-se de uma vingança de policiais e guardas civis.
Aliás, uma reportagem mostrou que nas horas seguintes à morte do policial militar em Osasco, no dia 13, outras cinco pessoas foram exterminadas em condições semelhantes. Ou seja, não foram 18 vítimas, mas sim 23.
Fala-se em vingança. Vingança contra quem? Contra qualquer "suspeito" que estivesse na rua ou num bar da periferia de Osasco e Barueri. Contra quem "tivesse passagem" e também quem não tivesse. Contra os pobres, jovens, negros, que são desde sempre os alvos preferenciais das polícias no Brasil.
A pena de morte está instituída há muito tempo nas periferias. Sem julgamento, direito de defesa, sem coisa alguma. Na periferia não existe Estado de Direito.
Apenas de janeiro a julho deste ano, foram 454 mortes praticadas por policiais militares em São Paulo, mais do que no mesmo período de 2014. E 2014 já foi o recorde dos últimos dez anos, com 816 assassinatos por policiais.
Por detrás dos números, estão vidas. Vidas ceifadas precocemente. Fernando Luiz de Paula era pintor desempregado. Eduardo Bernardino Cesar, de 26 anos, tinha saído para comprar um lanche. Não voltou. Presley Santos Gonçalves, da mesma idade, deixou dois filhos. Deividson Lopes Ferreira comemorava o emprego novo. Wilker Correa Osório voltava do trabalho para a casa e foi baleado sem mais.
Esses são cinco dos 23 mortos. Sem falar nos 454 só no primeiro semestre deste ano e nos 816 em todo 2014. Mas a dor do povo da periferia não sai no jornal. Imagine só se fossem 23 exterminados em bares da Bela Cintra. Caía a República. Panelas bateriam furiosas nas sacadas. Mas isso é só por "causas nobres", isto é, dos nobres.
Quando o assunto é o extermínio de jovens pobres e negros da periferia, reina a indiferença nas sacadas. Ou ainda os aplausos à barbárie e os selfies com a PM.
Mais uma vez, "o silêncio sorridente de São Paulo diante da chacina". 

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