domingo, 2 de agosto de 2015

Alguém Irá Ajudar os Curdos?

  • O que o exército turco, esse exuberante membro da OTAN, quer da pequena aldeia curda de Roboski?
  • O Ocidente deveria pressionar a Turquia para que ela aja de forma mais humana moralmente e de maneira mais responsável em relação aos curdos e demais minorias. Todos nós sabemos que a Administração Obama jamais fará isso. Porém há milhares de ativistas, profissionais de nível superior e universidades que fazem vista grossa como se os maus-tratos fossem coisa perfeitamente normal.
  • Há muitos "ativistas" como esses. Suas universidades estão repletas de eventos que abusam verbalmente de Israel. Mas se você perguntar, eles nem sabem o que se faz com os curdos a mando dos próprios dirigentes turcos. Esses ativistas ou são ignorantes ou são hipócritas. O ativismo deles nada tem a ver com a dedicação aos seres humanos, trata-se apenas de odiar os judeus. Quando a Turquia condena Israel por cometer massacres", os israelenses deveriam lembrar à Turquia das dezenas de milhares de curdos mortos e sobre como a Turquia ainda os trata.
Nas eleições turcas de 7 de junho, o Partido da Democracia Popular (HDP), pró curdo, conquistou uma grande vitória ao obter 13% dos votos, permitindo que seus candidatos ocupem 80 das cadeiras no parlamento da Turquia que conta com um total de 550 cadeiras, nem todos são curdos, alguns são turcos ou de outros grupos étnicos. Em qualquer país normal, esse resultado seria bem-vindo pelas autoridades estatais como um potencial para resolver um enorme problema nacional de maneira não violenta em benefício de ambos os povos, tanto curdo quanto turco.
Infelizmente a Turquia parece não pensar assim. Os recentes incidentes em que Ferhat Encu, um deputado curdo do HDP foi ameaçado, insultado e espancado por soldados turcos na aldeia curda de Roboski (Uludere) na província de maioria curda de Sirnak mostram mais uma manifestação do problema. (Vídeo do incidente: aqui e aqui, e aqui.)
Por quatro meses, o exército turco bloqueou os planaltos em Roboski e proibiu os aldeões de irem àqueles lugares, segundo Ferhat Encu do Gatestone Institute
Pesados reforços militares também foram enviados à aldeia, que faz fronteira com o Governo Regional do Curdistão no Iraque e isso criou tensão na aldeia, segundo Encu.
Em 2011, a força aérea da Turquia matou 34 civis inocentes, incluindo 17 crianças, em um ataque aéreo em Roboski. Ferhat Encu perdeu 11 parentes no massacre, incluindo seu irmão Serhat Encu.
Entre o massacre de 2011 e sua eleição para o parlamento em junho de 2015, Ferhat Encu foidetido pela polícia seis vezes sob vários pretextos e depois liberado.
Em 7 de junho Encu viajou para Roboski, sua terra natal, para verificar o que estava acontecendo e tentar diminuir as tensões.
"Roboski é como uma prisão aberta", disse ele mais tarde. Em 6 julho, a população local iniciou um protesto de 2 dias para acabar com a proibição de viajar para os planaltos e parar de enviar reforços militares para a região. Mas os soldados dispararam seus fuzis contra os aldeões.
"Em 7 de julho cerca de 20 soldados nos interceptaram e atiraram bombas de gás lacrimogêneo contra o nosso carro. Então, Mahmut Oral, repórter do jornalCumhuriyet, saiu de seu carro, se apresentou e pediu para que eles não atirassem bombas de gás lacrimogêneo, foi quando o ameaçaram.
"Em seguida saí do carro e lhes disse que eu era um deputado do parlamento. Havia aproximadamente 5 metros entre os soldados e eu. Naquele momento alguns soldados começaram a atirar a esmo".
Pode ser que eles atiraram para o alto. Eles podem ter feito isso só para assustar a ele e aos jornalistas, não para matá-los. Ainda que o tivessem matado, eles jamais teriam sido responsabilizados por isso. Há muitos tiroteios no vídeo.
Encu contou que ele disse aos soldados que não estava havendo resistência e pediu para que parassem de atirar.
"Mas eles responderam o seguinte: você não é nosso deputado. Você é o deputado de terroristas, traidores e saqueadores. Nós representamos a honra do estado.
"Aí o comandante me disse para cair fora e veio para cima de mim, eu tentei impedir que ele me espancasse. Então os soldados começaram de novo a atirar enquanto outros me espancavam".
Mahmut Oral, repórter do jornal Cumhuriyet, que estava presente no confronto, expôs o seguinte:
"quando saímos do carro, dizendo que éramos jornalistas, fomos tratados com truculência pelos soldados e ameaçados com armas de fogo. Quando a situação se agravou, Encu saiu do carro e os soldados o agarraram pelo colarinho e o cercaram. Os soldados disseram a Encu: nós somos o estado aqui. Que deputado? Você é um terrorista e sequestrador... Eles continuaram insultando os jornalistas que tentaram intervir para acalmar os ânimos de Encu e dos soldados... Eles ameaçaram quebrar nossas câmeras e atirar em nós caso não voltássemos para o carro".

O Massacre de Roboski ocorrido em 2011

Em 28 de dezembro de 2011 jatos F-16 da Turquia lançaram um ataque aéreo durante cinco horas sobre Roboski matando 34 civis, incluindo 17 crianças, algumas com apenas 12 anos de idade.
As vítimas estavam transportando cigarros baratos, óleo diesel e outros itens semelhantes para a Turquia quando começou o bombardeio. Os corpos de algumas das vítimas ficaram irreconhecíveis por causa das queimaduras.
O Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) não apresentou nenhum pedido de desculpas pelo massacre, escrito ou verbal. Muito pelo contrário, em 30 de dezembro de 2011 Erdogan, então primeiro-ministro, agradeceu o estado-maior pela "suscetibilidade em relação ao tema, apesar da imprensa".
Algumas das vítimas morreram de frio de acordo com um relatório de ativistas de direitos humanos, médicos e advogados, logo após o massacre, não foi providenciado nenhum tipo de ajuda por horas a fio e não foi permitida a entrada de ambulâncias naquela área.

Cortejo fúnebre das vítimas do massacre de Roboski de 2011 na Turquia.

Em maio de 2012, o Primeiro Ministro Erdogan afirmou que aquele que estiver tentando manter o massacre de Roboski na ordem do dia é "uma organização terrorista e suas derivações".
Em junho de 2012, quando famílias das vítimas e representantes de ONGs saíram parahomenagear os mortos, a polícia os dispersou com canhões de água.
Primeiro os procuradores de Diyarbakir ficaram encarregados de investigar as mortes em Roboski. Mas depois, em junho de 2013, foi anunciado que os procuradores não iriam mais cuidar do caso devido à " falta de jurisdição" e o caso foi enviado para os procuradores das forças armadas.
Em janeiro de 2014, o gabinete militar turco rejeitou a investigação sobre o ataque aéreo em Roboski. O despacho de 16 páginas comunicava que "o staff das forças armadas turcas agiu de acordo com as decisões do parlamento turco e do conselho de ministros, com a aprovação do estado-maior". O despacho também assinalava que Necdet Ozel, chefe do estado-maior deu a ordem do ataque aéreo de sua casa.
Veli Encu, irmão de Ferhat Encu, disse que receber a decisão dos promotores das forças armadas foi como matar novamente as 34 vítimas:
"nós lutamos durante dois anos para que os criminosos fossem a julgamento, mas as autoridades estatais nem sequer enviaram a decisão aos nossos advogados. Ficamos sabendo da decisão pela TV", disse ele. "Nenhum dos responsáveis pelo massacre foi exonerado. Os perpetradores do massacre foram recompensados em vez de punidos".
Ele acrescentou que o governo está tentando proibir que os aldeões entrem na região do massacre.
"Eu e mais quatro amigos levamos uma escritora até a fronteira quando ela se preparava para escrever um livro sobre o massacre. Ao voltarmos fomos parados pelos militares. Eles vieram acompanhados de 30 cães. Eles nos detiveram ainda que não tivéssemos atravessado a fronteira. Multaram-nos em 2.000 liras turcas por violação de fronteira".
Parentes, inclusive crianças de 12 e 13 anos de idade, que tentaram depositar flores para marcar os 500 dias após o ataque, foram barradas, multadas ou instruídas a comparecerem à delegacia de polícia por "violarem a lei de passaporte".
Zeki Tosun, que perdeu o filho no massacre, disse: "fomos homenagear os mortos com 34 coroas de flores. Multaram-nos em 3.000 liras turcas por cada coroa de flores"... Isso aqui parece uma cela A cada passo somos seguidos (pelo exército turco).. Já estamos sob custódia".
Os parentes das vítimas foram então a julgamento em um tribunal, sendo posteriormente absolvidos em agosto de 2014.
Enquanto isso nenhum dos assassinos foi a julgamento ainda que uma investigação criminal tivesse sido realizada contra os sobreviventes do massacre, Davut Encu, Servet Encu e Haci Encu. Eles foram interrogados em janeiro de 2012.
* * *
Ataques contra essa pequena aldeia continuam.
Em junho de 2015, Ferhat Encu contou à Bianet News Agency que soldados tinham atacado pessoas em Roboski durante dois dias e que a população estava com medo de sair de casa.
"Soldados arrombaram as casas e espancaram mulheres, detiveram quatro pessoas e insultaram as demais. Um cidadão ficou ferido e o veículo que o transportava sofreu um acidente. Quando os soldados partiram tudo voltou ao normal.
"Nesta manhã às cinco horas, sem aviso prévio, soldados abriram fogo matando cinco mulas. Se houvesse pessoas fora de casa naquele momento, elas teriam sido mortas".
"Eu não consigo entender essa selvageria. O que eles querem de Roboski"
A questão é a seguinte: o que o exército turco, esse exuberante membro da OTAN, quer dessa pequena aldeia curda?
A resposta é que a desumanização dos curdos na Turquia é tão forte e amplamente difundida que as autoridades estatais não suportam nada que esteja relacionado com a existência curda. Nem mesmo uma vitória na eleição curda, ainda se essa eleição fosse para o parlamento da Turquia, mas o simples fato dos curdos exigirem a punição dos perpetradores de um massacre é intolerável para eles
Os curdos não deveriam ser membros do parlamento, isso sem falar de parlamentares que lutam pelos direitos nacionais. Eles devem se assimilar como "turcos" ou serem invisíveis, se possível mortos. Conforme dizem os famigerados racistas turcos, "o melhor curdo é o curdo morto".
A experiência nos ensinou que no século XXI há duas maneiras de se lidar com um problema nacional.
Primeiro, há a maneira certa, a maneira moral, civilizada e democrática, na qual as pessoas são tratadas segundo as normas, com o devido respeito. Quando um povo nativo diz que está sofrendo ou que tem queixas ou demandas, é bom prestar atenção atentamente, tentar compreender e procurar uma acomodação porque você os considera seus iguais e sabe que esse povo nativo mora na terra de seus ancestrais há séculos. Na realidade, para começar, não se deve tratá-los como se não fossem seres humanos. E não se faz com que eles tenham que passar por enormes sofrimentos.
Mas mesmo assim, pode acontecer que haja diferenças. Se elas vierem à tona, também é possível esclarecer as expectativas e esperar que aquele grupo reconheça seu direito de viver e de usufruir de liberdade, assim como ele. Como grupos civilizados, vocês poderiam decidir que cada um siga seu próprio caminho e se tornem bons vizinhos. Mas se o desejo é manter essas pessoas dentro de suas fronteiras, pelo menos reconheça a existência nacional desse povo. Quaisquer que sejam os direitos políticos e culturais que você tenha, conceda-os também a ele. É assim que líderes políticos com consideração moral se comportam.
Entretanto há uma forma tradicional turco-islâmica ou do Oriente Médio de conduzir essas coisas: nesse tipo de cultura política, quando povos nativos ou grupos minoritários têm queixas ou reclamações, eles são esmagados pelo exército. Você os assassina em massa, nega sua existência, os tortura ao seu bel prazer, os insulta diariamente e os chama de "terroristas" e "saqueadores". E você comete todas essas atrocidades baseado em uma coisa apenas: seu poder militar. Visto que você dispõe de um só "valor".
O ingresso dos curdos no parlamento turco por terem obtido tantos votos foi uma vitória gigantesca e deveria ser tratada com carinho como uma oportunidade de alcançar uma paz democrática na região.
E os curdos deixaram claro, diversas vezes, que eles querem viver em paz. Antes das eleições, Selahattin Demirtas, co-presidente do Partido da Democracia Popular (HDP), pró curdo disse que "quer que o HDP ingresse no parlamento ou não, nós defenderemos a paz".
Mas se nem se tornar parlamentar e exigir um meio legal de resolver a questão curda, por meio de diálogo e negociações pode proporcionar aos curdos reconhecimento político e direitos humanos, que mais eles podem fazer?
Será que já não chegou a hora da comunidade internacional ouvir o sofrimento dos curdos e apoiá-los? Os EUA ajudaram a libertar o Kosovo. O Ocidente deveria agora pressionar a Turquia para que ela aja de forma mais humana moralmente e de maneira mais responsável em relação aos curdos e demais minorias.
Todos nós sabemos que a Administração Obama jamais fará isso. Mas há indivíduos e organizações fora da Turquia. Há milhares de ativistas, profissionais de nível superior e universidades que fazem vista grossa frente o sofrimento dos curdos, como se os maus-tratos fossem coisa perfeitamente normal.
Se eles são ignorantes e não sabem dos curdos e de outras minorias na região, então precisamos educá-los e esperar que após ficarem cientes da verdade, "ajam". Se não se importarem, são hipócritas. Há muitos "ativistas" como esses. Suas universidades estão repletas de eventos que abusam verbalmente de Israel. Mas se você perguntar, eles nem saberão o que está acontecendo no Curdistão e o que se faz com os curdos a mando dos próprios dirigentes turcos. Esses ativistas ou são ignorantes ou são hipócritas. O ativismo deles nada tem a ver com a dedicação aos seres humanos, trata-se apenas de odiar os judeus. Quando a Turquia condena Israel por este "cometer massacres", os israelenses deveriam lembrar à Turquia das dezenas de milhares de curdos mortos e sobre como a Turquia ainda os trata.
Uzay Bulut, nascida e criada como muçulmana, é uma jornalista turca estabelecida em Ancara.


http://pt.gatestoneinstitute.org/6245/ajudar-curdos

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