São Paulo – 2015 talvez seja lembrado como o início da década da Índia.
crescimento do país, que havia caído pela metade depois da crise internacional, voltou a acelerar e pode superar o da China ainda este ano, o que não acontece desde 1999.
A Economist Intelligence Unit prevê que até 2050, a Índia terá crescimento médio de 5% ao ano e será catapultada do 10º para o 3º lugar entre as maiores economias do mundo.

Ao contrário de muitos emergentes, a Índia não é exportadora de commodities, então é favorecida pelos preços mais baixos que tanto prejudicam países como o Brasil.
A queda do petróleo aliviou a balança de pagamentos indiana e a inflação, que superou dois dígitos em 3 dos últimos 5 anos, está cedendo.
Na gestão da economia, um raro alinhamento: a chegada do prestigiado Raghuram Rajan ao comando do Banco Central em 2013 foi seguida pela eleição de Narendra Modi em maio de 2014. Ele ganhou fama de reformador após 12 anos governando o rápido crescimento da província de Gujarat.
Sua vitória, a maior de um partido em 30 anos, sinalizou que entraves políticos seriam superados para abrir setores para o capital estrangeiro, racionalizar o sistema tributário e diminuir a burocracia. 
A Índia está na 142ª posição no ranking de facilidade de fazer negócios do Banco Mundial, muito atrás da China (90ª) e até do Brasil (120ª).
Desigualdade
Por enquanto, o balanço do mandato é inconclusivo: a mudança leva tempo, mas até empresários estão apreensivos. Ashwini Deshpande, do departamento de Economia da Universidade de Delhi, diz que “a expectativa era que Modi entregasse mais” e que o país debate se as mudanças são bem-vindas:
“O governo quer fazer reformas amigáveis ao mercado, mas se isso é causa de celebração ou de preocupação, depende do ponto de vista. Na questão de permitir compras de terras por estrangeiros, por exemplo: muito estão felizes que as empresas terão menos barreiras, mas fazendeiros temem que não serão compensados de forma justa”.
A desconfiança tem base: de 85 países monitorados pela consultoria Euromonitor, a Índia teve o 9º maior aumento da desigualdade desde 2008 na medição pelo índice Gini, e a renda disponível dos 10% mais pobres até caiu no período.
Entre 1994 e 2010, a taxa de pobreza foi de metade para um terço da população, mas o país ainda não conseguiu formar, como na China, uma vigorosa classe média.
Há mais bilionários na Índia do que na França e Itália juntas– e também mais miseráveis do que nos 26 países da África subsaariana combinados.
Forças e fraquezas
Das grandes economias do mundo, a Índia tem a maior população rural e o maior setor informal. Assim como na China, a urbanização deve ser uma força para o crescimento, e a formalização vem sendo incentivada aos poucos através da abertura de contas bancárias.
O perfil demográfico também é um dos melhores ativos do país. Os outros BRICS estão envelhecendo rápido, e nenhum pode mais contar com uma força de trabalho que cresce em relação a população atual - como é o caso da Índia. 
Vale lembra que a China mudou de perfil ao se desenvolver: seus custos explodiram e o país deixou de ser destino para ser fonte de investimento. Isso abre espaço para que a Índia se posicione como uma nova plataforma de baixo custo para exportações, e Modi está atento a isso:
“Os setores financeiros e de tecnologia da informação são bem desenvolvidos na Índia, mas a manufatura não. O governo está tentando impulsionar isso com sua campanha 'Made In India', o que é uma boa manobra e vai aumentar a base econômica”, diz Sarah Bomphrey, analista-chefe de Economia e Mercado Consumidor da Euromonitor.
O PIB per capita em paridade de poder de compra do indiano ainda é um terço do chinês, e 8 das 10 cidades dos BRICS que mais crescem em gasto do consumidor estão na Índia. Não vão faltar oportunidades em um mercado de 1,2 bilhão de pessoas, e o Brasil também tem muito a ganhar com isso:
“Praticamente toda a renda incremental obtida pelos indianos deve ir para ingerir mais calorias (o que significa demanda por nossos alimentos) ou criar mais infraestrutura (demanda por nosso minério de ferro)”, diz Marcos Troyjo, co-diretor do BRICLab da Universidade de Columbia em Nova York.
Desafios
infraestrutura, aliás, é o maior obstáculo para os negócios na Índia, de acordo com o mesmo relatório do Banco Mundial. Um quarto da população não tem acesso à energia elétrica.
Este é um dos focos de Modi, mas a participação do setor privado não está nada consolidada – outra diferença importante em relação a China, que reinventou as parcerias público-privadas a partir do momento em que começou a se abrir.
“A Índia não será a nova China. O fenômeno chinês foi uma janela que a história abriu. Na China, o Estado é grande e forte; na Índia, é grande, mas não é forte. É uma democracia ainda mais caótica do que a brasileira”, diz Troyjo.
A presença internacional da Índia vai depender de como ela superar esse tipo de desafio. O país tem reforçado a diplomacia presidencial e pleiteia uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU, além de se aproximar dos EUA e de outros emergentes. 
Ao mesmo tempo, seu corpo diplomático (menor que o da Bélgica) é tradicionalmente defensivo e tembloqueado iniciativas de liberalização na OMC (Organização Mundial de Comércio). A professora Ashpande resume o paradoxo do momento atual:
“Como falar em protagonismo internacional de um país que tem mais aparelhos celulares do que sanitários?”. O mundo aguarda para ver como a Índia vai responder.