quinta-feira, 23 de abril de 2015

Mais incompetência que corrupção - Vinicius Torres Freire


Incompetência e irresponsabilidade abriram mais rombos nas contas da Petrobras do que a corrupção direta, embora seja muito difícil discernir a contribuição da inépcia para a roubança e vice-versa. Sem a roubança, o resultado de 2014 até não seria ruim, feita apenas uma aritmética simplista de desconsideração de perdas pontuais, embora brutais.

A gente fica então a imaginar o que poderia ser a maior empresa brasileira caso a Petrobras não tivesse sido vítima das políticas doidivanas implantadas a partir de 2008, em especial a partir de 2011, no primeiro governo de Dilma Rousseff.

Pretinho básico no branco, a propina teria custado uns R$ 6 bilhões, segundo o balanço de 2014 da empresa, divulgado na noite de ontem, quando era escrita esta coluna. Esse seria o custo extra dos ativos comprados pela empresa, devido ao "esquema de pagamentos indevidos", na linguagem oficial do balanço.

A perda foi estimada levando em conta a "taxa básica" de propina relatada pelos corruptos à Justiça, de 3%, aplicada aos pagamentos feitos às empresas do "clube" da propina entre 2004 e abril de 2012 (quando em tese todos os corruptos maiores teriam caído fora da Petrobras).

Atrasos de obras faraônicas, mal projetadas, mal planejadas e ainda atrapalhadas pelos estragos decorrentes da corrupção e outras lambanças provocaram prejuízos de outros R$ 31 bilhões. A vergonheira maior ocorreu nos elefantes brancos da refinaria Abreu e Lima e no complexo petroquímico do Rio, o Comperj. Mas houve ainda baixas nada desprezíveis devidas à desistência de projetos como o das duas refinarias Premium (R$ 2,83 bilhões). Perdas devidas à piora do mercado de petróleo, preços em queda, outros R$ 10 bilhões.

No resumo da ópera, o prejuízo fechado da empresa em 2014 foi de R$ 21,6 bilhões (em 2013, houvera lucro de R$ 23,6 bilhões). Nas operações de fato, a empresa não foi tão mal. O Ebitda ajustado (retorno que de fato caiu no caixa, contado antes do pagamento de juros, dividendos e amortizações) caiu 6%, mas a margem bruta de "lucro" foi de 24% (ante 23% em 2013); o lucro bruto cresceu 15%. A receita aumentou, pois foi atenuada a política de matar a empresa a fim de maquiar a inflação por meio do tabelamento disfarçado de preços dos combustíveis. Apesar de tudo, mal e mal, a empresa ainda funciona.

O investimento caiu 17% de 2013 para 2014. O ritmo "Brasil Grande" da expansão da empresa era mesmo insustentável, tocado à base de endividamento irresponsável, em marcha forçada, à moda dos anos 1970. O endividamento relativo da empresa subiu quase cinco vezes de 2010 para 2014, de 1 para 4,77 (trata-se aqui da proporção entre dívida líquida e Ebitda ajustado). De 2013 para 2014, a dívida líquida ainda cresceu 27%.

O investimento vai cair mais, claro, como anunciado; vai ficar uns 30% do planejado nos anos do delírio e mais ou menos na mesma em relação ao realizado em 2014. Em 2016, cai outra vez, uns 14%.

Motivos: excesso de dívida, falta de crédito da empresa na praça e, como se diz explicitamente no relatório que acompanha o balanço, a queda do preço do petróleo, a alta do dólar e o nível de endividamento da empresa.

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