quinta-feira, 26 de março de 2015

Cartas de Nova York: Uma cidade de moradores de rua

O prefeito Bill de Blasio estipulou que a moradia barata seria o principal foco da prefeitura, prometendo 200 mil casas de preço acessível para os próximos dez anos

As águas de março brasileiras também aconteceram em Nova York essa semana, antecipando o abril chuvoso que a cidade sempre encontra antes que a primavera chegue de verdade. Uma disputa entre o frio de temperaturas negativas, a chuva e surtos de sol e dias quentes chegam aqui nessa época do ano para brincar com a ansiedade de todos que não aguentam mais o inverno.
Depois de algumas trocas de estação nova-iorquinas, entretanto, o que me surpreendeu este ano não foi a neve nem o frio, mas sim a quantidade de pessoas em situação de rua, se protegendo no metrô. Pessoas que tiveram que realmente sobreviver o inverno da cidade. Em 2014 foram mais de 60 mil pessoas dormindo em abrigos da cidade de Nova York todas as noites. Os números do último ano são quase o dobro dos de 2008: Nova York bateu recordes na quantidade de homeless people, com 116 mil nova-iorquinos dormindo pelo menos uma noite de 2014 em um abrigo da cidade. Em inglês, não se fala “morador de rua”, as pessoas são “sem casa”, mas a pobreza se torna cada vez mais visível em Nova York, mesclando as divisões entre primeiro e terceiro mundos, mostrando que elas já não são tão claras assim.
Entre os mais afetados estão as crianças, principalmente as latinas e as negras. Dos 60 mil dormindo em abrigos todas as noites, 25 mil são crianças.  A cidade agora tem  40 por cento de suas crianças latinas vivendo abaixo da linha da pobreza definida pelo governo federal.. Seis por cento dos Afro-americanos com menos de 18 anos em Nova York usaram os abrigos no último ano. Estamos falando de uma a cada 31 famílias negras dentro do sistema municipal de abrigos. Para agravar o problema, as condições dos abrigos de Nova York são consideradas péssimas, apresentando violações de códigos de saúde e casos de corrupçãol.
O problema não está realmente no desemprego: mais ou menos um terço das famílias sem casa está empregado. Mas para muitas famílias, pagar aluguel e colocar comida na mesa com o salário mínimo de U$8,75 por hora é praticamente impossível considerando o custo de vida em Nova York. A falta de moradia mais barata na cidade é a principal causa do problema de acordo com grupos como a Coalition for the Homeless.
Em 2015, o prefeito Bill de Blasio estipulou que a moradia barata seria o principal foco da prefeitura, prometendo 200 mil casas de preço acessível para os próximos dez anos. A administração de Blasio também estipulou que todo projeto de construção deve apresentar uma porcentagem de residências acessíveis para ser aprovado pela prefeitura. A prefeitura modificou o zoneamento de alguns bairros da cidade e pretende investir U$200 milhões nesse tipo de moradia, com a idéia de que uma Nova York mais densa, com mais apartamentos e mais gente, pode voltar a ser mais barata e acessível.
Morador de rua (homeless), New York, NY (Foto: andrewholbrooke.com)Morador de rua (homeless), New York, NY (Imagem: andrewholbrooke.com)

 http://noblat.oglobo.globo.com/cronicas/noticia/2015/03/cartas-de-nova-york-uma-cidade-de-moradores-de-rua.html

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