E se...
Dizem que a morte é a única certeza da vida. E não há crença, ciência ou lógica capaz de explicar seu egoísmo em tragar talentos que fariam diferença entre os vivos. Poderosa, orquestra mudanças radicais e reina absoluta entre o condicional, os inevitáveis “se” que mudariam a história caso ela não tivesse se metido.
Com Eduardo Campos não é diferente.
Político astuto, administrador testado e aprovado, agregador, Campos estava fadado ao sucesso. Vinha firme em linha ascendente. Mesclava com maestria posturas conservadoras com algumas ousadias, entre elas as de atrair e firmar parceria com Marina Silva, provável herdeira de sua candidatura à Presidência da República.
É cedo para dimensionar o tamanho do estrago provocado por sua morte precoce, quanto mais para os “se” que ela provocará, tanto no pleito de agora quanto em 2018, quanto, seguramente, Campos chegaria ainda mais competitivo.
Mas ele fará parte da galeria dos “se” que abriga o primeiro time da política.
E se Tancredo Neves subisse vivo a rampa? Se José Sarney jamais chegasse ao Planalto? Se Ulysses Guimarães não desaparecesse no mar?
E se Luís Eduardo Magalhães não tivesse morrido em 1998, aos 43 anos, pertinho de se tornar governador da Bahia e se credenciar à disputa presidencial de 2002? Se Mario Covas não fosse abatido por um câncer? Seria o sucessor de Fernando Henrique Cardoso? Disputaria com Lula? Teria chances? E se o sergipano Marcelo Déda, também morto aos 43 anos, ainda tivesse voz na cúpula petista?
Não há como escapar dessas hipóteses, que sempre embutem as chances de um País melhor. Com Eduardo Campos não será diferente. E se aquele avião não tivesse caído?
Como candidata, Marina também será refém do “se”.
Feita protagonista pelo acaso – alguns dos seus já dizem, sem qualquer escrúpulo, que por predestinação –, Marina sempre será devedora. Se tiver sucesso, carregará o desconforto de tê-lo obtido a partir da fatalidade que vitimou Campos. Um “se” nada fácil de suportar sobre os ombros.
Oficialmente, o PSB de Campos só ungirá a candidatura Marina Silva na reunião que pretende realizar na quarta-feira, um dia depois da estreia do horário eleitoral no rádio e na TV.
Os socialistas pretendem vincular o aval à indicação de um vice do partido e ao respeito da candidata às alianças regionais que ela já deixou claro que abomina. Mais ainda: querem assegurar que não vão sumir do mapa, relegados pelos integrantes da Rede, partido que a ambientalista, que já foi do PT e do PV, não desistiu de criar.
O PSB sabe que Marina é sua melhor chance. Mas teme até mesmo a vitória.
E se...
Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília, e na Agência Estado (SP). Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas. Escreve aqui aos domingos. Twitter: @maryzaidan, e-mail: maryzaidan@me.com
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