Não sou um tempo
ou uma cidade extinta.
Civilizei a língua
e foi resposta em cada verso.
E à fome, condenaram-me
os perversos e alguns
dos poderosos. Amei
a pátria injustamente
cega, como eu, num
dos olhos. E não pôde
ver-me enquanto vivo.
Regressarei a ela
com os ossos de meu sonho
precavido? E o idioma
não passa de um poema
salvo da espuma
e igual a mim, bebido
pelo sol de um país
que me desterra. E agora
me ergue no Convento
dos Jerônimos o túmulo,
que não morri.
Não morrerei, não
quero mais morrer.
Nem sou cativo ou mendigo
de uma pátria. Mas da língua
que me conhece e espera.
E a razão que não me dais,
eu crio. Jamais pensei
ser pai de santos filhos.
Luís Carlos Verzoni Nejar, poeta, ficcionista, crítico e tradutor, nasceu em Porto Alegre (RS), em 11/01/1939. Seu primeiro livro de poesias, “Sélesis”, foi publicado em 1960. Nessa época trabalhava no “Diário de Notícias”, de Porto Alegre, como colaborador da página literária “Nossa Geração”. Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica – RS, em 1962, entre 1966 e 1974 foi professor da rede pública estadual em Itaqui (RS) e Promotor de Justiça em várias cidades do interior gaúcho, além de Procurador da Justiça em Porto Alegre. Atualmente, aposentado, reside em Guarapari (ES). É membro da Academia Brasileira de Letras desde 09 de maio de 1989, ocupando a cadeira nº 4. Recebeu inúmeros prêmios, entre eles, em 1970, o Prêmio Jorge de Lima, pelo livro “Arrolamento”, concedido pelo Instituto Nacional do Livro. Em 1979 ocorreu a gravação de seus poemas para a Biblioteca do Congresso, em Washington (EUA).
Considerado um dos 37 escritores chaves do século, entre 300 autores memoráveis, no período compreendido de 1890-1990, Nejar — chamado "o poeta do pampa brasileiro" — figura como uma voz emblemática e universal, de original e abundante produção lírica, ao lado de Octavio Paz, Jorge Luis Borges, César Vallejo e Nicanor Parra. O ensaio do crítico suíço Gustav Siebenmann, “Poesía Y Poéticas del Siglo XX En La América Hispana Y El Brasil” (Ed. Gredos, Biblioteca Románica Hispânica, Madri, 1997), analisa as vertentes da poética espanhola e latino-americana, resgatando seus movimentos e tendências. Da literatura brasileira, 14 nomes são mencionados, entre outros, além de Nejar, Cruz e Sousa, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto e Haroldo de Campos.
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