João Vaccari Neto, apontado pelo delator como o operador do PT na corrupção da Petrobras, também é acusado pelo MP de São Paulo de lesar uma cooperativa habitacional
Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br)
O secretário nacional de finanças do PT, João Vaccari Neto, é admirado pelos companheiros pela dedicação ao partido. Dizem que ele não mede esforços para cumprir as missões que recebe. Foram essas características de fidelidade e resignação partidárias que o levaram a substituir Delúbio Soares e a desempenhar o papel de tesoureiro informal das campanhas de Dilma Rousseff. Assim, passou a transitar facilmente entre empresários interessados em estreitar relações com o partido que comanda o País há 12 anos. Homem de confiança de José Dirceu, símbolo maior do mensalão, e do ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, Vaccari é discreto, avesso a badalações e grandes eventos. Mas, segundo as revelações relacionadas ao escândalo da Petrobras, ele tem função destacada no submundo da política, onde atuaria há anos com grande desenvoltura – especialmente com a missão de abastecer o caixa 2 da legenda nas campanhas eleitorais. Na semana passada, o depoimento à Justiça do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa detalhou como o tesoureiro do Partido dos Trabalhadores agiu na divisão dos recursos desviados de contratos da Petrobras.
HOMEM DE CONFIANÇA
Como Delúbio Soares, Vaccari é admirado pela
fidelidade aos amigos e ao partido
Segundo Costa, o PT tinha direito aos 2% dos contratos. As licitações da área de abastecimento seriam conduzidas pela diretoria de serviços, comandada por Renato Duque, indicado pelos petistas para o cargo e amigo de Vaccari. “Todas as licitações da área de abastecimento eram feitas na diretoria de serviços, que escolhe as empresas, coordena a comissão de licitação e faz o orçamento básico”, explicou. “Dentro da área de serviços, tinha o diretor Duque, que foi indicado na época pelo ministro da Casa Civil, José Dirceu. Ele tinha essa ligação com o Vaccari dentro desse processo do PT”, relatou Paulo Roberto. De acordo com o depoimento dado pelo ex-diretor, o PT recebia ainda mais das outras diretorias da estatal, que repassavam 3% dos contratos para o PT e ainda pagavam o PMDB e o PP. A cobrança da cota petista seria feita diretamente por Vaccari. Como fizeram todos os mensaleiros, ele nega tudo. Em nota, disse que nunca tratou sobre contribuições financeiras do partido, ou de qualquer outro assunto, com Paulo Roberto Costa. Reclama que não tem acesso ao processo e não consegue exercer o direito à ampla defesa. O secretário insiste ainda que as contribuições financeiras recebidas pelo PT são transparentes e realizadas sempre de acordo com a legislação em vigor.
Não é bem assim. O escândalo do mensalão mostrou que distribuir recursos para partidos da base aliada e, claro, para o próprio PT, não é uma novidade. Vaccari chegou a ser citado no auge das investigações do mensalão, que levou alguns dos seus companheiros mais próximos para a cadeia. Segundo o depoimento do corretor de fundos Lúcio Funaro, dado durante as investigações, em 2004 Vaccari o recebeu na sede da Bancoop – cooperativa de crédito habitacional que à época era presidida por ele – e explicou ao corretor interessado em fazer negócios nos fundos de pensão que era preciso pagar propina ao PT em qualquer contrato fechado. O depoimento consta no processo, mas Vaccari não chegou a ser indiciado porque o ex-ministro Joaquim Barbosa, relator do caso no Supremo Tribunal Federal, entendeu que não era a Bancoop que irrigava o mensalão.
O PADRINHO
O ministro Ricardo Berzoini é um dos responsáveis
pelo prestígio de Vaccari no PT
Como já foi reportado por ISTOÉ, embora não tenha sido envolvida oficialmente na ação penal do mensalão, a cooperativa habitacional é investigada em outro processo, que apura a prática de corrupção durante a gestão de Vaccari. Segundo denúncia feita em 2007 pelo Ministério Público de São Paulo, desde 2002 a Bancoop lesou cerca de três mil mutuários e foi usada pelo PT para desvio de dinheiro para financiamento de campanhas eleitorais, especialmente a do ex-presidente Lula, em 2002. Os desvios eram feitos para empresas fantasmas em nome de laranjas do partido e depois distribuídos oficialmente para o PT. Tudo sob o comando de Vaccari. Como as operações deram resultado e o chefe da Bancoop tem respondido sozinho pelas denúncias, em 2010 Vaccari acabou recompensado pelos companheiros. Deixou a cooperativa para assumir o prestigiado cargo de tesoureiro da legenda. A denúncia do Ministério Público afirma que os desvios causaram um rombo de R$ 170 milhões e pede que os responsáveis paguem a conta com recursos do próprio bolso.
A ação penal protagonizada por Vaccari tramita até hoje na 5a Vara Criminal de São Paulo, ainda sem um desfecho. Em agosto deste ano, o julgamento foi retomado e a expectativa dos mutuários é de que o processo finalmente seja concluído nos próximos meses. De acordo com as acusações, o secretário de finanças do PT cometeu crimes em série, como formação de quadrilha, estelionato, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. A gestão do homem forte do partido na Bancoop também deixou para trás cerca de mil processos movidos por associados que alegam terem sido lesados pelas fraudes. Enquanto isso, nos bastidores, Vaccari segue firme e prestigiado dentro da legenda que ele ajuda a enriquecer. O problema para ele é que quando o processo da Petrobras chegar ao fim é possível que não seja mais um réu primário.
DENÚNCIA
Em 11 de junho de 2008, ISTOÉ revelou o esquema de
João Vaccari e Ricardo Berzoini na Bancoop
Fotos: Rodrigo Dionísio/Frame; Adriano Machado/Ag. Istoé
Nenhum comentário:
Postar um comentário