terça-feira, 23 de setembro de 2014

Cartas de Londres: Um reino unido, por Beatriz Portugal


Depois da tempestade vem a calmaria, ou pelo menos era isso o que se esperava depois do referendo sobre a independência da Escócia. A campanha do “não” venceu por 55% a 45%, com uma diferença de quase 400 mil votos, uma vantagem bem mais confortável do que o esperado.
Há duas semanas houve um frenesi – pânico até – quando uma pesquisa de opinião mostrou que o “sim” ganharia. Westminster pareceu acordar à possibilidade de uma Escócia independente. Promessas foram feitas e a campanha do “não” se intensificou, conseguindo ganhar tanto ímpeto que nos últimos dias antes do voto, os ingleses pareciam certos de que o “não” venceria.
No dia seguinte ao referendo vários dos simpatizantes do “sim” foram entrevistados pela BBC e se lamentavam pela falta de audácia dos seus conterrâneos, que decidiram ficar no Reino Unido, enquanto que os vitoriosos lembravam que permanecer no status quo oferecia suas vantagens.
Tudo bastante civilizado, mas a calmaria depois da tempestade foi perturbada por uma briga campal em Glasgow. Cerca de 100 simpatizantes de cada lado começaram a brigar numa das praças principais da cidade, a George Square, e seis dos envolvidos acabarem sendo presos pela polícia.
Cerca de quinhentos quilômetros ao sul, aqui em Londres, a situação não contou com socos e pontapés, mas a previsão é de que, em breve, os efeitos sísmicos do referendo abalem toda a política do Reino Unido.
Jornais e analistas prevêem disputas e usavam até a palavra “revolução” para descrever a mudança constitucional que deve ocorrer na Grã-Bretanha. O primeiro-ministro David Cameron prometeu reforçar os poderes de Edimburgo, mas num efeito dominó isso desencadeou exigências do reconhecimento dos direitos ingleses também.
Em seu discurso no dia apos o referendo, Cameron afirmou que iria “dar mais voz” a Inglaterra. Na prática isso deve levar a uma mudança que previna deputados escoceses de votarem em leis inglesas que não afetem os seus constituintes. O calendário apresentado é para um projeto de lei em janeiro, o que em termos parlamentares é de uma velocidade impressionante.
Não se sabe nada alem das linhas gerais das mudanças que estão por vir. Apenas que elas virão e que serão grandes. Veremos ainda se teremos calmaria ou tempestade.

Confronto entre grupos pró-Reino Unido e pró-independência - Foto: Reuters 

Beatriz Portugal é jornalista. Depois de viver em Brasília, São Paulo e Washington, fez um mestrado em literatura na Universidade de Londres e resolveu ficar

Nenhum comentário:

Postar um comentário