segunda-feira, 4 de agosto de 2014

POEMA DA NOITE Vittoria, por Pier Paolo Pasolini


Onde estão as armas? Só conheço
as armas da minha razão:
e na minha violência não há qualquer lugar
NEM PARA A SOMBRA DE UMA AÇÃO
QUE NÃO SEJA INTELECTUAL. Haverá motivo para rir
se agora, nesta manhã cinzenta
que mortos já viram, e outros morto verão,
mas que para nós é só mais um manhã,
grito palavras de luta
sugeridas pelo sonho? Não sei
o que será de mim ao meio-dia
mas o velho poeta está “ab joy”
e fala, como andorinha ou estorninho
- e como um jovem gostaria de morrer.
Onde estão as armas? Não regressam
os dias antigos, eu sei, o Abril vermelho,
de juventude, passou para sempre.
Só um sonho, de alegria, pode iniciar
uma estação de dor armada.
Eu que fui um resistente sem armas
- um místico, um imberbe Cavaleiro andante -
sinto agora na vida o germe
horrendamente perfumado da Resistência.
Esta manhã, as folhas estão imóveis
como sobre o Tagliamento ou o Livenza:
não é que venha lá um temporal,
ou que a noite esteja prestes a cair, é a ausência
da vida, que se contempla, e se mantém
longe de si mesma, tentando perceber
que terríveis, que serenas
forças a enchem ainda: perfume de Abril!
Um jovem armado por cada fio de erva,
voluntário por vontade de morrer! 

Pier Paolo Pasolini (Bolonha, Itália, 5 de março de 1922 - Óstia, Itália, 2 de novembro de 1975) - Além de mundialmente conhecido e importante cineasta, também foi poeta, escritor, jornalista e professor. Formou-se em Literatura pela Universidade de Bolonha, pertenceu ao Partido Comunista Italiano. Combateu o Fascismo a sua vida inteira. Foi brutalmente assassinado sob condições ainda bastante polêmicas. Pasolini realizou filmes que se tornaram clássicos como 'Medeia', 'Os 120 dias de Sodoma' e 'Teorema'. Todas as traduções foram feitas por Maria Jorge Vilar de Figueiredo

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