sexta-feira, 23 de maio de 2014

É A LEI DO PT. É A LEI DO LULA!


Mauro PereiraMauroPereira


Assim que o resultado das urnas confirmaram Fernando Haddad como prefeito eleito de São Paulo em 2012, escrevi um artigo afirmando que por mais que o os petistas se dispusessem a super-dimensionar a vitória na capital paulista, ela seria incapaz de aplacar a frustração pelos naufrágios de Recife, Salvador, Porto Alegre, Manaus e, principalmente, Diadema. Sozinha, não se faria suficiente para mascarar a curva descendente que já se manifestava com alguma vitalidade não só no poderio eleitoral do PT, mas, sobretudo, na popularidade de Lula.

Sob ataque de devotos indignados, garanti que Lula saiu daquela eleição menor do que entrou. Um ano e meio depois, às vésperas da eleição presidencial, a crescente rejeição à candidata do Partido dos Trabalhadores e o cada vez mais evidente sinal de esgotamento da divindade de sua principal liderança demonstram que eu não estava distante da verdade.

Como eu havia previsto, embora fosse o único que lhes restara, São Paulo tornou-se o símbolo da superioridade petista. São arrogantes, está no DNA, para admitirem publicamente o fracasso nas últimas eleições municipais, mas não são idiotas, ao contrário. Foram espertos o bastante para entender que nas eleições de 2012 a sociedade enviou um recado em alto e bom som para Lula e seus lacaios, alertando-os que o tempo das vacas gordas se aproximava do fim e que o alimento que haviam estocado, além de ser de péssima qualidade, era insuficiente para resistir à temporada das vacas magras que despontava no horizonte. Talvez aterrorizados pelo futuro acinzentado que se esboçava viraram as costas ao razoável e buscaram a solução mais simples disponível. Entre lamentos e maldições, descobriram tarde demais que Lula cometera a temeridade suicida de consagrar Paulo Maluf o Zafenate-Panéia do PT. Ficaram sabendo rapidamente que Maluf não sabia decifrar sonhos, mas era perito em piorar pesadelos.

Imaginaram que o representante-mor da nova ordem comunista de direita se daria por satisfeito somente em apoiar Haddad. A primeira fatura foi apresentada imediatamente após a contagem dos votos e teve que ser paga com a moeda do constrangimento. Maluf foi um dos primeiros a subir no palanque da vitória petista. Utilizaram as mais ordinárias estratégias para escondê-lo. Não conseguiram sequer calá-lo. Uma gargalhada em tom de chiste ecoou pela imensidão da Avenida Paulista antecipando o deprimente som do sotaque meio sírio, meio libanês, cantando  olê, olê, olê, olá… Lula, Lula! Dizem, também, que, perfeitamente à vontade naquele universo que sempre lhe foi hostil, ensaiou até um grito de “ganhamu cumpanherada!”.

Desde então, tornou-se praticamente impossível não perceber o mal-estar permanente que inundou as hostes petistas. O tempo não foi capaz de apagar dos semblantes dos dirigentes do partido o acúmulo de rugas trazidas pela preocupação, minimizando a alegria que deveria iluminar os rostos daqueles que se apresentam até hoje como os grandes vitoriosos daquele pleito. E é nessas situações de dificuldade que atropelam a sensatez e, apostando na imbecilidade do brasileiro, tentam mascarar suas mazelas evidentes, recorrendo a publicações de notas oficiais truculentas e bravatas pueris se auto proclamando o maior instrumento de construção de uma sociedade justa e igualitária. Ser um dos maiores jamais será cogitado. Só que desta vez apostaram errado. As derrotas devastadoras nas principais capitais brasileiras e em redutos tidos até então como inexpugnáveis, fizeram troar potente a voz dos brasileiros gritando para quem quisesse ouvir: imbecís, são vocês!

Sempre souberam que o resultado de São Paulo foi uma vitória de Pirro, pois se dependesse só deles, o brinquedinho de Lula encontraria sérias dificuldades para sobreviver ao primeiro turno. Matreiros, perambularam pelas veredas da politicalha e da contra-informação propagando que a performance na cidade mais importante do País, além de expiar seus malfeitos e desagravar seus mensaleiros, serviria inapelavelmente para consolidá-los como a força política a ser reverenciada e obedecida. Certos de que um desempenho consagrador do partido nas demais capitais passava necessariamente por uma atuação maiúscula em São Paulo, abandonaram definitivamente a ética e dedicaram todos os esforços na destruição do seu adversário constituindo talvez o maior e mais promíscuo arco de apoio já visto em torno de uma candidatura. E, desvairada, a paulicéia lulo-malufou.

No entanto, o que conseguiram foi uma vitória magérrima, sem brilho, reproduzida no palanque dos horrores montado para a comemoração. Passados quase vinte meses, ainda ruminam o gosto amargo daquela vitória. A sequência de derrotas desmoralizantes em capitais e cidades importantes de norte a sul do País deu a extensão exata da empulhação paulistana. A soberba petista sucumbiu ante a humilhação imposta por Eduardo Campos em Recife e as vitórias retumbantes de ACM Neto em Salvador e Artur Vergílio em Manaus se incumbiram de remeter o supercampeão de votos à sua real dimensão.

 E para tornar ainda mais desesperador esse cenário sombrio, acompanharam estupefatos a popularidade da presidente Dilma virar fumaça. Atropelados pela nova realidade que os banaliza e ameaça destruir o projeto de se eternizarem no poder, perderam a mão de vez e se descuidaram permitindo a consagração nas redes sociais do constrangedor jargão “aonde a Dilma vai, a vaia vai atrás”. Ao que tudo indica, nem mesmo a infame estratégia do medo utilizada pelo mago dos marqueteiros no programa político do PT apresentado na televisão quinta-feira passada conseguiu sensibilizar os eleitores. Não são poucos os que sustentam que o tiro acabou saindo pala culatra.

Além de deixar transparecer nítidos sinais de desespero diante da reviravolta no quadro político e eleitoral, a deprimente entrevista concedida por Lula a uma jornalista portuguesa afirmando que os mensaleiros presos na Papuda não são gente de sua confiança, somada à utilização do programa do partido no horário político para mandar um recado em rede nacional ao ainda deputado André Vargas, que não é mais do PT mas continua petista, avisando que todos aqueles que cometeram erros têm que pagar, me levam a pressupor que se no desenrolar da campanha surgir embaraços que possam de alguma forma prejudicar o projeto do partido de perpetuar-se no poder, frescuras como remorso serão descartadas e as carcaças dos companheiros serão abandonadas pelo meio do caminho. É a lei do PT. É a lei de Lula!

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