No último domingo foi dia de ir às urnas em Berlim por dois motivos. O primeiro era a eleição para o parlamento europeu e o segundo foi um referendo sobre o destino do aeroporto Tempelhof.
Construído ainda na década de 20, o Tempelhof ficou famoso após a reforma feita nos tempos sombrios do nazismo, quando passou a ter uma arquitetura bem marcante. Durante a Guerra Fria foi usado como ponte aérea para trazer suprimentos a Berlim, inclusive sendo um importante ponto para as tropas norte-americanas.
Desde 2008 foi desativado e hoje é um parque, onde se pode andar de bicicleta em uma pista de avião. Um dos lugares mais interessantes e inusitados de Berlim.
A votação era para ouvir a população sobre o que deve ser feito do lugar. Continuar com o parque nas medidas atuais, ou permitir novas construções, inclusive conjuntos habitacionais?
Desde que chegue aqui, há pouco mais de um ano, foi o segundo referendo do qual participei. O outro era sobre uma possível troca na empresa que fornece energia. Reclamar, protestar e cada vez mais convocar referendos fazem parte da cultura da cidade.
Os berlinenses escolheram manter o parque como está. Sinal de um receio da especulação imobiliária desenfreada que tem ocorrido na capital alemã. Já o outro resultado foi mais preocupante. Na Alemanha, os partidos anti-euro e contrários à União Européia da extrema-direita ganharam espaço, mas ao menos a correlação de forças se manteve relativamente estável.
Em um continente que já foi destruído várias vezes por guerras, a União Européia é um avanço inquestionável: países que antes se matavam, hoje se sentam no mesmo parlamento e tem programas de intercâmbio comuns.
Principalmente na Alemanha, o fantasma da extrema-direita causa arrepios. Por isso, quando grupos nacionalistas vêm com um discurso fácil de em tempos de crise diminuir os poderes da Europa é preciso ter cuidado.
Os franceses no domingo, ao darem 25% dos votos à Frente Nacional de Marie Le Penn, parecem ter esquecido a história do continente em que vivem. Neste caso, o caminho apontado por muitos por aqui é o de radicalizar nos meios democráticos possíveis, com mais referendos, plebiscitos e todo o tipo de votações. Seja na cidade de Berlim, ou por toda a Europa.
Albert Steinberger é repórter freelancer, ciclista e curioso. Formado em Jornalismo pela UnB, fez um mestrado em Jornalismo de Televisão na Golsmiths College, University of London. Atualmente, mora em Berlim de onde trabalha como repórter multimídia para jornais, sites e TVs.
Moro na Áustria, e como na Alemanha, aqui as coisas só são decididas após a população votar nesses referendos. Mesmo que menos da metade da população vá as urnas, os que vão geralmente decidem bem. Foi o caso contra as olimpiadas em Viena. Quanto a eleição de domingo, realmente, dá um certo arrepio quando vemos os partidos de direita crescerem tanto. Tomara que as pessoas participem mais das próximas eleições e percebam que a ideia UE é bom para a Europa.
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