Blog do Noblat
“Como Cristina vem administrando seus nervos e ansiedade? Como o estresse afeta seu comportamento em relação a assessores/decisões? Que passos Cristina ou seus assessores(as) tomam para ajudá-la com seu estresse? Ela está tomando alguma medicação?”, perguntava a Secretaria de Estado americana à Embaixada dos Estados Unidos em Buenos Aires há exatos quatro anos, em um e-mail interceptado pelo WikiLeaks.
Nesta semana, os argentinos e a imprensa internacional se fizeram as mesmas perguntas quando a Casa Rosada anunciou repentinamente uma cirurgia para a retirada de um coágulo do cérebro da Presidenta.
Nos bastidores, deu-se início a corrida por informação. A Casa Rosada, notoriamente conhecida pela falta de transparência, se fecha de maneira hermética, enquanto jornalistas começam a gincana, a busca por neurologistas no intuito de entender melhor o quadro médico de Cristina. A fábrica de versões está a pleno vapor.
A versão oficial, a princípio, pareceu pouco crível: uma queda enquanto juntava os presentinhos para seu neto na saída do avião há quase dois meses havia causado um coágulo que estava ocasionando fortes enxaquecas à Presidenta e deveria ser drenado.
Milhares de pequenos rumores acerca da saúde da mandatária começaram a circular: desmaios, manipulação política, saúde deteriorada.
Cristina Kirchner, presidente da Argentina. Foto: Télam
A verdade é que Cristina adoece a poucas semanas das eleições legislativas, quando se espera que o kirchnerismo sofra uma expressiva derrota. Muitas especulações nascem daí, mas ninguém sabe ao certo o verdadeiro estado de saúde e ânimo da Presidenta.
Jornalistas de todo o mundo fazem plantão na porta da Fundação Favaloro, onde está internada e de onde todos os dias, por volta do meio dia, saem os “relatórios médicos”. Mas não há nenhum detalhe quanto ao tamanho do coágulo. No entanto, abundam detalhes mundanos como “hoje ela comeu purê de abóbora e maçãs assadas e mandou beijos a todos os argentinos”.
Enquanto isso assume o Vice-presidente Amado Boudou, bastante queimado por acusações de corrupção. Ele garante que, da UTI, é Cristina que segue tomando as rédeas do país.
Na quarta-feira, surge um fato insólito: o jornalista Jorge Lanata, arqui-inimigo da mandatária, é internado na mesma Fundação, por uma suposta falência renal. Uma nuance de realismo fantástico aos eventos que já, por si só, parecem oníricos. Lanata é transferido logo depois do frenesi que o fato causou nas mídias sociais.
A sensação é a de um episódio de plantão médico cercado de incertezas, algo que é comum por aqui. Todos querendo saber o que se passa dentro da cabeça da Presidenta.
Gabriela Antunes é jornalista e nômade. Cresceu no Brasil, mas morou nos Estados Unidos e Espanha antes de se apaixonar por Buenos Aires. Na cidade, trabalhou no jornal Buenos Aires Herald e mantém o blog Conexão Buenos Aires. Escreve aqui todos os sábados.
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