14 de setembro de 2013 | 2h 07
O Estado de S.Paulo
Apesar de a Polícia Federal (PF) estar investigando um rombo de R$ 400 milhões em verbas públicas administradas pelo Ministério do Trabalho (MT), tendo ouvido em depoimento coercitivo o ex-ministro interino e então secretário executivo, o número dois do órgão, Paulo Roberto Pinto, o ministro Manoel Dias continua no comando da pasta. Para tanto, logrou convencer a presidente Dilma Rousseff em encontro de duas horas e derrotar correligionários que, em reunião da Executiva do Partido Democrático Trabalhista (PDT), defenderam a entrega do cargo e o rompimento imediato com o governo.
Para ficar no emprego, ele contou com a ajuda providencial do presidente nacional do partido, Carlos Lupi, que se relaciona com os pedetistas na base do "manda quem pode, obedece quem tem juízo" e tem um argumento insuperável para não permitir que a chefe de governo demita o auxiliar: o apoio da legenda ao projeto de reeleição de Dilma na eleição do ano que vem. No momento, não seria inteligente abrir mão desse apoio, pois a sucessão poderá não se dar em céu de brigadeiro - e a presidente não gosta de turbulência. E ninguém no governo está disposto a oferecer a cabeça do ministro aos adversários. Imaginar que qualquer um desses possa abrir mão de sua adesão por motivos morais não é, de fato, prova de sensatez.
Para amenizar o desgaste que a Operação Esopo da PF poderá provocar no palanque presidencial, o ministro tomou a providência habitual na atual administração federal: montou uma comissão para fazer um "pente-fino" nos convênios da pasta que estão sob suspeita. E encarregou o secretário de Políticas Públicas de Emprego do MT, Sérgio Vidigal, de coordenar seus trabalhos. Ninguém pode acusar o ministro Dias de ter nomeado uma pessoa sem experiência no assunto. Quando era prefeito de Serra (ES), Vidigal assinou um convênio de R$ 4,6 milhões com o Instituto Mundial de Desenvolvimento e Cidadania (IMDC), ONG com sede em Belo Horizonte, apontada como principal beneficiária pelo desvio de dinheiro público. Firmado em 2008, esse convênio ainda está em plena vigência. Um dos principais assessores do secretário, Gleide Santos Costa, foi preso na semana passada em São Paulo em outra operação da PF, a "Pronto Emprego". Ele teria favorecido o Centro de Atendimento ao Trabalhador (Ceat), ONG denunciada pelo desvio de aproximadamente R$ 18 milhões. O assessor e os dirigentes da ONG, ligados ao PDT, teriam usado verbas do MT destinadas a qualificar mão de obra para financiar a importação e venda de produtos chineses no comércio popular nos arredores da Rua 25 de Março, em São Paulo.
É pouco provável que as ministras com quem a presidente conversou antes de receber Dias - Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, e Ideli Salvatti, das Relações Institucionais - tenham chamado a atenção da chefe para a ironia de fraudadores usarem dinheiro público para qualificar mão de obra com o objetivo de enriquecer vendendo produtos comprados a preços baixos por causa da remuneração vil dos chineses, que concorrem de maneira não muito leal com outros, cuja venda remuneraria a mão de obra que os convênios se propõem a qualificar.
Mas, se Vidigal tem assessores no mínimo controvertidos, não se pode acusá-lo de inabilidade no trato com gente que manda. O "mutirão" chefiado pelo ministro Dias lembra a "faxina" a que Dilma recorreu em 2011 para afastar o dono da sigla governista, Carlos Lupi, do mesmo Ministério por suspeita de recebimento de propinas de ONGs. Lupi, nomeado originalmente pelo antecessor e padrinho de Dilma, Lula, foi substituído por Brizola Neto, descendente do fundador da legenda, Leonel Brizola, e que agora foi aconselhado a não meter o bedelho nas relações entre o PDT e a reeleição de Dilma.
É difícil de acreditar que alguém que participou da fraude seja a pessoa mais indicada para acabar com ela e punir os fraudadores, à sombra de Lupi, que, demitido do MT, é quem manda lá. Se tudo segue igual, por que a farsa e a fraude teriam fim?
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