sábado, 6 de julho de 2013

Uma trapalhada olímpica


Carlos Chagas 
Ontem, em Brasília, uma pergunta não queria calar: que motivos levaram a presidente Dilma a exigir do vice-presidente Michel Temer recuar do óbvio diagnóstico envolvendo o naufrágio   do plebiscito com validade  para  a reforma política  ser aplicada em 2014?  Ignora-se os termos  da exigência  feita pelo telefone, pois a presidente  encontrava-se  na Bahia. A experiência leva à suposição de altíssimos decibéis  cruzando a atmosfera.
O misterioso nessa história é sua motivação. Porque Dilma sabe, como o país inteiro, que o plebiscito não será aprovado para a reforma política valer ano que vem. A presidente do Tribunal Superior Eleitoral deixou claro não haver tempo, fulminando, de tabela, a essência da proposta  vaga e incompleta. Não bastassem esses argumentos, aí está o Congresso, que não se entende nem deseja a reforma política.
Por que, então? Para não dar o braço a torcer e reconhecer, com a derrota de sua sugestão, a perda do comando político que vinha exercendo?  Por temperamento? Por vaidade? Para recompor sua candidatura à reeleição, demonstrando à opinião publica que a culpa da crise é do Congresso, por não haver votado a reforma política, enquanto ela cumpre o seu dever?
Mas será dever  propor e insistir numa fantasia que só traz desgaste para o governo? E quanto a humilhar o vice-presidente da República, levando-o a desdizer um prognóstico mais do que evidente, feito horas antes?
Onde nos levará essa seqüência de erros? Sem meias palavras, essa trabalhada olímpica que só faz  atingir a autoridade dos detentores do poder?
O PSDB entrou na discussão levantando um pretexto inócuo. Disse o presidente do partido,  Aécio Neves, que tudo acontece para que o Lula volte à televisão numa suposta campanha plebiscitária. Ora, o Lula não precisa desse artifício. Basta estalar os dedos e estará em todos os canais e telinhas, pois sua imagem e seus comentários dão mais Ibope do que a novela das nove.
Parece fora de propósito supor uma armação do PT para substituir Dilma por Lula. Fosse assim e a presidente não se prestaria a esse festival de contradições, mesmo cedendo ao império das circunstâncias criado pelos companheiros. Se o ex-presidente quiser, será candidato em menos de quinze minutos, com a concordância da sucessora.
Fica então a  pergunta, por enquanto sem resposta. Do jeito que as coisas vão, nem mesmo será aprovado o plebiscito para realizar-se  ano que vem. Muito menos depois. Integrará o rol das águas passadas, em especial se deputados e senadores aprovarem ao menos parte dos projetos da reforma política.
CONTRADIÇÕES
O presidente do PT, Rui Falcão, acaba de convocar o partido para participar das manifestações e protestos de rua que daqui por diante vierem a realizar-se. Se integrados na multidão, sem camisetas identificadoras, os companheiros poderão ser absorvidos. Desde que não portem bandeiras, é claro. Nessa hipótese, continuariam a ser escorraçados. A grande contradição da proposta está em que os protestos e manifestações se fazem contra os partidos políticos, contra a autoridade pública, contra os governos. Inclusive o deles.
INVERSÕES
Quem denuncia uma traição pode ser chamado de traidor? O agredido transforma-se em agressor?
Seria cômico se não fosse trágico assistir o ex-funcionário da CIA ser perseguido pelo governo dos Estados Unidos  como se fosse um réprobo, por haver denunciado que milhares de telefonemas e comunicações eletrônicas em todo o mundo  são objeto de monitoração pelo governo de Washington.
Parece o retorno à Inquisição e às fogueiras do Santo Ofício.

Nenhum comentário:

Postar um comentário