sábado, 13 de abril de 2013

FUTEBOL — O grande Gérson, o “Canhotinha de Ouro”: “Se pegassem os jogadores do passado e trouxessem para o condicionamento físico atual, os jogadores de hoje ficariam vendo a gente jogar”



Gerson em ação pela Seleção: "O Felipão está querendo fazer voltar aquele espírito do passado, de o jogador realmente querer atuar na Seleção. O orgulho de qualquer atleta deveria ser jogar pela Seleção, é o ápice da carreira" (Foto: A Gazeta Esportiva)
Entrevista concedida a Taísa Szabatura, publicada na revista Alfa
OS PASSOS PERFEITOS DE GÉRSON
Pelé, Garrincha, a Seleção de 70 e os polêmicos cigarros Vila Rica. Aos 71 anos, Gérson Oliveira Nunes, o Canhotinha de Ouro, diz que não tem arrependimentos. Apenas saudade do futebol-arte

Futebol pelo futebol não existe mais. Sou saudoso dessa época.
O lado empresarial venceu o futebol-arte. Hoje, um menino quando começa já tem um, dois ou até três empresários que querem levá-lo para fora do país. É outra realidade.
Minha mulher nunca foi a um estádio de futebol, nem as minhas filhas. Não tenho nada contra as mulheres que vão, não é machismo. Foi uma decisão nossa. Eu ia fazer o que tinha que fazer e voltava, como uma pessoa normal.
Na minha época, não tinha empresário. Meu procurador era o meu pai e, depois, o meu sogro.
No começo, não tive problema em jogar no Flamengo, mesmo torcendo pelo Fluminense. Eu sempre separei bem a minha profissão da minha vida particular. Família é uma coisa e trabalho é outra.
Eu era solteiro, ganhando um dos melhores salários do país. Iria sair por quê? Era interessante ir para a Europa e me ofereceram um negócio fora do comum, mas eu quis ficar.
O grande craque como comentarista da Rádio Globo do Rio (que trocou pela Bradesco Band no ano passado): "Nunca quis ser treinador, não tenho paciência" (Foto: O Globo)
O nosso treinamento era totalmente diferente do que é feito hoje. Naquela época, 80% era condição técnica e 20% condição física. Hoje é o contrário. Eu treinava muito os meus lançamentos. Antigamente, a gente não saía rápido do treino. Entrava cedo e saía tarde. Depois, lançar a bola no jogo se tornou fácil, devido ao treinamento. Eu fazia questão disso.
Não tem nenhum jogador atualmente que se assemelhe com o que eu jogava no passado. O Paulo Henrique Ganso, por exemplo, começou muito bem, mas infelizmente teve os problemas com contusões.
Se pudesse dar um conselho aos novos jogadores, seria: jogar mais do que atender a certos treinadores. Quando mandar dar pontapé, não dar, sabe? É saber jogar.
Não me arrependo de ter feito o comercial do cigarro Vila Rica.Faria tudo de novo. Fiz uma propaganda para um cigarro novo, todo mundo sabia que eu fumava e então fui convidado. Todo cigarro era igual, mas esse era mais barato. E a vantagem estava somente nisso. Daí um idiota qualquer modificou o sentido e disse que eu queria levar vantagem em tudo, criando a “lei de Gérson”.
Eu não fiz lei nenhuma. Não tem nada a ver. Foi levado para o lado pejorativo, e por isso me irrita. De vez em quando, um imbecil vira pra mim e fala da “lei de Gérson”, mas idiota sempre tem em qualquer lugar.
Parei de fumar porque quis há 30 anos, ninguém me incentivou. Não me arrependo de nada.
As duas melhores seleções que já existiram foram a Seleção de 1958, pelos talentos e pela individualidade, e a de 1970, pelo conjunto do time.
O Pelé e o Garrincha são os melhores. Até hoje, não consegui decidir quem é o melhor. Se pegassem os jogadores do passado e trouxessem para o condicionamento físico de hoje, sabe o que iria acontecer? Os jogadores de hoje ficariam vendo a gente jogar.
A fama sobe à cabeça. Os jogadores vêm da classe média e, de repente, estão com um bom carro e um salário astronômico. Eles não sabem administrar isso. A fama nunca me atrapalhou porque tive uma boa base.
O Neymar tem tudo aqui. Para que vai se aventurar tão novo pela Europa? Logo ele deve ir, mas, enquanto ele puder ficar ao lado dos pais e do filho, acho que ele tem toda a razão.
Na famosa - e polêmica - propaganda do cigarro Vila Rica, em 1976
Na famosa - e polêmica - propaganda do cigarro Vila Rica, em 1976, cujo slogan era: "Gosto de levar vantagem em tudo, certo?"
Hoje, os jogadores só valorizam a Seleção para terem um nome maior e, com isso, sair do Brasil. Tanto é que o Felipão está se pegando a isso agora, tentando voltar com aquele espírito do passado, de querer realmente jogar na Seleção. É a valorização da Seleção, e não só do profissional. O orgulho de qualquer atleta deveria ser entrar para a Seleção. É o ápice da carreira, e ainda se tornar campeão do mundo, imagina? Acima disso, não tem mais nada.
Treinador da seleção tem que ter know-how. Ele precisa ter feito alguma coisa na vida. Eu acho que o Felipão vai fazer um bom trabalho. Eu acredito na seleção.
O Dunga não foi um grande jogador e não foi um bom treinador.Daqui a dez anos, talvez, mas não poderiam nunca tê-lo colocado naquela oportunidade. Foi uma temeridade.
Nunca pensei em ser treinador de futebol, não tenho paciência.Recebi convites para treinar equipes, mas sempre quis ser radialista.
Eu não sei se as obras da Copa vão ficar prontas. Só sei que a cada dia se está pedindo cada vez mais dinheiro para isso. É uma vergonha este país. Não tem dinheiro para educação, saúde ou segurança.
Os desvios de dinheiro são revoltantes. O papo de que as obras vão trazer incentivos é conversa. É essa a política nojenta que temos neste país.
O Messi não vai ganhar nada no Brasil, a seleção da Argentina é muito fraca. Ele é muito bom jogador, mas nada que chegue perto do Garrincha, do Pelé e de tantos outros jogadores brasileiros e da própria Argentina. E não acho que ele vá superá-los.

Vejam aqui a propaganda que lhe rendeu a “lei de Gérson”:

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