sábado, 20 de abril de 2013

DESAJUSTE



Rapphael Curvo (1)
Difícil escrever com tantos acontecimentos que fazem o sentimento de “desajuste” ser presente no nosso cotidiano e cada vez mais, fazer parte de nossa atenção no dia a dia. No caso brasileiro, um deles, é esta infernal capacidade de a Nação aceitar passivamente que a criminalidade seja setorizada como se não fosse um problema de Estado. Esta postura talvez tenha muito a ver com o comportamento desonesto de nossos dirigentes aos quais a Lei não encontra caminhos eficazes para atingi-los. CORRUP~1É verdade que quem a aplica são os homens, membros de nossos tribunais e que, em princípio, deveriam manter um caminho largo de abrangência e eficiência legal para que o vigor dela prevalecesse.
Essa composição de desajustes éticos, morais, de posturas políticas e de princípios de ações governamentais, refletem de forma direta na formação educacional da Nação. Um jovem que, desde sua tenra idade assista, diariamente, pelos meios de comunicação notícias sobre o lamaçal em que se move a sociedade, não pode ter outro comportamento que não o de pouco caso com as regras legais e sociais que a norteiam. A marginalidade fica cada vez mais acentuada no momento em que, sobre o manto da racionalidade “obtusa”, este jovem descobre a proteção da lei para seus crimes, como é o caso da lei de proteção ao menor infrator, como exemplo.
É vergonhoso ler que com tanta falta de recurso para melhorar a educação, a infraestrutura e outras coisas mais, a Caixa Econômica Federal fará liberação de quase 400 milhões de reais a um time de futebol para o término de seu estádio, mesmo com garantias temerárias recusadas pelo Banco do Brasil.
Como devemos processar essa ação do governo diante de tudo? O mesmo recurso, sob o discurso de que não poderia financiar a iniciativa privada, no caso o São Paulo FC, foi negado financiamento para que o Morumbi, seu estádio, fizesse a reforma necessária para receber os jogos da Copa do Mundo. Isso não vai parar nos 400. Alguma dúvida?
O mais escandaloso de tudo é a vontade governamental de socorrer com os cofres públicos, o amigo do ex presidente, comparsa nas maracutaias, com liberação de bilhões via uma fajuta necessidade da Petrobras no porto de Açu, projeto do vendedor de sonhos Eike Baptista. Pelo andar da carruagem, serão muitos bilhões para esse projeto e, com certeza, de outros mais do mágico empresário. O brasileiro esquece com muita facilidade e não se lembra mais de quanto de dinheiro foi “dado”, literalmente, a esse indutor de facilidades virtuais. O Tesouro Nacional financia o BNDES que financia Eike, que bonito, não?
Nessa área de petróleo então nem se fala. São bilhões perdidos em investimentos na Bolívia, outros tantos na Argentina e outros mais na compra da refinaria de Pasadena nos Estados Unidos, sem falar nos investimentos não realizados pelos venezuelanos na refinaria de Suape, em Pernambuco. Serão mais bilhões de doação aos amigos de Chávez. Onde está a oposição?
Este comportamento atinge todos os setores da vida em sociedade. Fico pasmo e até indignado com a atitude do maior craque do futebol brasileiro. Muito bem instruído, Neymar coloca a todo o povo brasileiro que não saiu do Santos FC porque aqui é feliz. Engana, e com indisfarçável prazer, a todo povo, e principalmente aos torcedores ao dizer que vai cumprir com o contrato até o final. Um homem de compromisso, a imagem que passa.
A verdade é que fazendo isso, ao final do contrato coloca no bolso os milhões que irão ser pagos pela sua transferência, limpinhos, sem qualquer retribuição financeira ao Santos FC. Essa é a razão de sua permanência. Isso sem falar que como poderá negociar seu passe em qualquer lugar do mundo, escapa da Receita Federal. Caso saia agora do Santos, receberá apenas 10% do valor de venda de seu passe, deduzida a parte do Leão. O restante será dividido entre o próprio Santos FC e a DIS, outro investidor.
Pare o leitor um pouco e pense. Avalie o que está ocorrendo a sua volta e verá com enorme clareza que impera o desajuste moral, ético e tudo o mais que não tenha a mínima aproximação com a honestidade. Observe em qualquer direção ou setor da vida no nosso Brasil e perceberá que nada, mas nada mesmo, está em perfeita sintonia com a forma correta de se pautar na vida em sociedade. É um escabroso desajuste.
(1)Jornalista, advogado pela PUC-RIO e pós graduado pela Cândido Mendes-RJ.

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