Helder Caldeira (ipolitica.com.br)
Não são poucas as vozes respeitáveis a garantir que há uma gravíssima crise de representatividade no Poder Legislativo do Brasil. Arranhados pela vigência nauseabunda de uma espécie esquizofrênica de politicamente correto (deveras incorreto!), esses críticos optam por desconsiderar a realidade-massacre dos processos eleitorais brasileiros e os resultados que, por definição democrática, emanam das urnas.
Raros são aqueles que, em suas linhas, traçam o fundamental: os parlamentares-bandidos são eleitos, e muitas vezes reeleitos sucessivamente a despeito de suas fichas criminais, com o sagrado voto dos cidadãos.
É desfaçatez pretender rogar sapiência e consciência ao eleitor que não sabe diferenciar a indelével responsabilidade de escolher seus representantes, das miudezas paliativas que aplacam sua pobreza e sua fome imediata. A magnitude da democracia se confunde com o bolso vazio e o ronco estomacal. Não que um seja maior ou mais importante que o outro, mas ambos foram reduzidos à mesma sintaxe. Moral da história: são poucos os que compreendem a real dimensão dos verbos democráticos e seus impactos na sociedade.
A situação ganhou tal proporção que, atualmente, uma correção de rota parece impossível. Por deterioração dos conceitos fundamentais, os maiores pilantras da nação são içados pelo povo às honrosas e confortáveis cadeiras de um Poder instituído, ainda que inerte, ineficiente e ao molde de sinecuras. Nenhum deputado ou senador chegou lá sozinho. Tornou-se legítimo representante de seu Estado graças à votação maciça dos eleitores.
Ou vão dizer que nenhum alagoano conhecia o histórico de Renan Calheiros e Fernando Collor de Mello? Que nenhum paulista tinha a mais remota noção do extenso currículo de Paulo Maluf? Que os maranhenses e, posteriormente, os amapaenses são alienados à trajetória pública do imortal José Sarney? “Bullshit!”, dirá o intelectual com vasta formação acadêmica em renomadas instituições internacionais e que, mesmo não conseguindo localizar no mapa o que é Rondônia e o que é Roraima, regressa ao Brasil tentando emplacar portentosas teorias civilizatórias e humanas num país de proporções continentais, culturas diversas e realidades desconhecidas.
Dá-se o descompasso: o crítico notável argumenta pela crise de representatividade no Congresso Nacional; o parlamentar sacaneia e locupleta respaldado pelo título de representante concedido por milhares de votos de seu quinhão geográfico; e o povo segue vivendo na medida no (im)possível. “Bullshit!”, ouso reiterar o intelectual em minha máxima insignificância.
Não há uma crise de representatividade vigente no Brasil. O que existe é uma falaciosa substância no cerne de uma democracia de arremedos. Como as reformas essenciais à nação não vão emergir nesse confortável cenário de frouxidão ética e mansidão crítica, sigamos nosso famélico caminho, tirando meleca do nariz através de estradas esburacadas e superfaturadas. Somos retumbante e democraticamente idiotas.
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*Escritor, Jornalista Político e Apresentador de TV
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