Carlos Chagas
Se não era hora, e o governador Eduardo Campos fez vazar a informação por ingenuidade ou malícia, deve ser excluído da Corte por falta de confiança. Mas se já era hora, e o presidente do Partido Socialista apenas cumpriu missão acertada com a presidente Dilma, quem fica mal é o ex-presidente Lula, que obrigatoriamente deveria ter sido convidado a participar do anúncio.
Fala-se da notícia publicada ontem a respeito de Dilma haver participado a Campos, em encontro na segunda-feira, que vai disputar a reeleição em 2014. Que a presidente é candidata a um segundo mandato, até os postes da Esplanada dos Ministérios sabiam, faz muito. Claro que na dependência de sua popularidade continuar em altos patamares, assim como do compromisso de o Lula manter a decisão tantas vezes expressa por ele, de que a vez é dela, daqui a dois anos. Discutia-se a oportunidade da confirmação, que para Dilma não deveria acontecer tão cedo. O ano de 2013 é de realizações administrativas, ela tem enfatizado.
Por que, então, ficou o dito pelo não dito e a imprensa pode noticiar o mais importante conteúdo de uma conversa a dois, no palácio do Planalto? Milimétrica e sofisticada, essa operação não foi. É claro que a presidente carece de condições para desmentir o que insistia em não tornar público para não chamar o fogo amigo antes da hora. Como vai dizer, agora, que não é candidata? Admitem alguns que o anúncio terá sido feito para neutralizar os petardos fluindo de parte do PT, empenhados alguns companheiros em fazer o Lula candidato e assim vingar-se de Dilma pela pouca atenção que ela dedica ao partido.
Quem quiser que decifre a charada, mas a verdade é que o processo sucessório ameaça fugir do controle dos detentores do poder. Até porque Eduardo Campos faz saber que sua candidatura está posta. Não renunciou à pretensão, ainda que dependa de mil fatores para efetivá-la.
Espera-se para esta semana nova conversa entre Lula e Dilma. Haverá fios desencapados nessa relação?
EXÉRCITO BRANCALEONE?
João Capiberibe, Cristóvan Buarque, Randolfe Rodrigues, Pedro Taques e outros estão à espera de dois movimentos: um das oposições no Senado, lideradas por Álvaro Dias e Aloísio Nunes Ferreira, outro dos dissidentes do PMDB, com Pedro Simon, Jarbas Vasconcelos, Luiz Henrique e mais alguns. Consolidado esse grupo, com dificuldade chegaria a 20 senadores, ou seja, jamais colocaria em perigo a candidatura de Renan Calheiros à presidência da casa. Apenas incomodaria, feito ferrinho de dentista.
MALDADE
O governador do Piauí, Wilson Martins, ficaria devendo algumas semanas a mais no Purgatório, se o Purgatório existisse. Onde já se viu em pleno calor infernal, debaixo do sol do meio-dia, presentear a presidente Dilma com uma roupa de vaqueiro, daquelas de couro curtido, obrigando-a a vesti-la e até botar um chapéu?
Certos presentes dados a presidentes da República deveriam ser proibidos por lei. É grande o número de chefes de governo obrigados a experimentar cocares espalhafatosos, senão os índios anfitriões ficariam ofendidos. Alguns, como José Sarney, resistiram impolutamente, porque essas penas dão um azar danado. Mas gibão de vaqueiro nas condições de sexta-feira, no interior do Piauí, convenhamos, é um passaporte para a insolação…
Nenhum comentário:
Postar um comentário