quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

A turma da Ilha das Cabras, por Elio Gaspari



Elio Gaspari, O Globo
A investigação da Polícia Federal que abriu à visitação o jardim de Rose Noronha, a chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo, produziu um mapa para o estudo do patronato companheiro.
Desde o estouro da quadrilha, em novembro passado, 25.11/12, interceptações telefônicas expuseram uma rede de capilés que vão da privataria no porto de Santos à Advocacia Geral da União.
Há nela o caso da Ilha das Cabras, um bem da Viúva, com uns 50 mil metros quadrados, no litoral paulista.
"Cabras” foi concedida ao milionário ex-senador Gilberto Miranda (PMDB-AM). O doutor ganhou o mimo há mais de vinte anos, construiu um heliporto, um deque e ergueu uma mansão.
Em 1995, a propriedade foi avaliada em R$ 10 milhões e, desde então, o Ministério Público contesta o usufruto desse paraíso particular.
O doutor batalha pela sua ilha. Conseguiu até uma lei da Assembleia Legislativa, mas o então governador Mário Covas vetou-a.
Nos últimos anos recorreu ao companheiro Paulo Vieira, diretor da Agência Nacional de Águas, flor do jardim de Rose, que, por sua vez, estava na rede de amigos do comissário José Dirceu e de Nosso Guia.
Em abril passado Miranda preocupou-se com sua posse, que precisava de um parecer da Advocacia Geral da União: “Nós estamos perdendo”, mas Vieira tranquilizou-o: “Por que você exige tanto do pobre de mim?... Relaxa, homem, relaxa que vai dar certo.”
Em maio, quando o Supremo Tribunal Federal preparava o julgamento dos mensaleiros, Vieira propusera a Rose “parar o Brasil”: “O julgamento é político e que eles (ministros do STF) não vão sair de lá ilesos (...) o negócio agora é tumultuar o processo.”
Gilberto Miranda, pedia a Vieira “um tiro de canhão” para garantir-lhe a Ilha das Cabras. Segundo Rose, a essa época o donatário ajudava a aliviar os penares do comissário José Dirceu, oferecendo-lhe ajuda de advogados.
Quando estava em Brasília, Miranda celebrizou-se pela generosidade com que emprestava seus jatinhos. Os repórteres Fausto Macedo e Bruno Boghossian acabam de revelar trechos de telefonemas de um assessor de José Dirceu para Gilberto Miranda no dia 9 de novembro passado:
“O Zé não estava querendo descer lá no Santos Dumont, entende? Cinco horas da tarde é um problema porque ele vai chegar lá às 18:40, é um problema...” Mais adiante: “Não tem ninguém domingo às 9h30m, não tem ninguém no Santos Dumont.”
Uma mordomia aérea jogou o comissário no registro de uma trama em que não precisava ter entrado. No dia 14, Vieira recebeu um telefonema do braço direito do Advogado Geral da União: “Consegui.” Em seguida, ligou para Miranda: “Tá sentado? Você não sabe da maior. O consultor da União modificou e se manifestou a favor nosso, tá?”
De fato, um novo parecer atendera aos seus interesses. Nesse mesmo dia Dirceu precisava de outro avião, mas o do ex-senador estava indisponível.
Nos dias 19 e 21, Paulo Vieira contaria que Rose pedira emprestados R$ 650 mil em dinheiro porque “comprou um apartamento novo em Higienópolis”.
Na manhã do dia 23, o advogado-geral adjunto da União, José Weber Holanda, acordou seu chefe, Luis Inácio Adams: “Eu estou com uma busca e apreensão na minha casa, da Polícia Federal. (...) Estão vasculhando tudo.” Seria “alguma coisa ligada com a ilha das Cabras.”

Elio Gaspari é jornalista

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