Em plena Paris de hoje podemos ver o Bateau Lavoir, na rue Ravignan, uma das mais antigas ruas da colina de Montmartre. Até a Primeira Guerra Mundial, essa casa, antiga fábrica de pianos, serviu de abrigo e local de trabalho para vários artistas que ali fundaram uma colônia. Viveram e trabalharam ali Gauguin, Renoir, Picasso, Braque, Modigliani, Juan Gris... e muitos outros:
Quando Braque e Picasso eram rapazes e travaram amizade, a boêmia artística de Montmartre era composta essencialmente por jovens ansiosos por romper com o meio burguês. Compartilhando condições de vida muito modestas com as classes operárias, tinham ideias políticas semelhantes (esquerdistas e anarquistas) e gostavam de frequentar os mesmos ambientes.
Nem todos tinham as mesmas origens, mas entre os cubistas isso era quase a regra. Braque era um desses, filho de um pintor de paredes. Picasso não passara pelas mesmas privações, mas era um estrangeiro em Paris e não era rico.
Muitos indícios testemunham essa identificação real com as classes populares. Nenhum dos cubistas usava o avental comum aos pintores: Picasso gostava do macacão azul dos operários e Braque do macacão do mecânico, das calças do carpinteiro ou do boné do peixeiro.
Todos chamavam seu marchand, Daniel-Henry Kahnweiler, de Patrão e para se divertir gostavam das mesmas coisas: circo, café-concerto, cinema, esportes como o boxe, o ciclismo, e de dançar.
Músico amador, Braque muitas vezes desenhou e pintou temas musicais. No quadro que apresentamos hoje vemos um bandolim e um prato de frutas ao lado de uma partitura. As múltiplas perspectivas dos objetos sobre a mesa sugerem ritmo e repetição, lembrando uma experimentação musical.
As largas e amplas curvas do bandolim evocam a energia da música e da dança, enquanto as letras na partitura soletram a palavra “valse”.
De temperamento oposto ao de seu amigo Picasso, Braque muitas vezes foi deixado em segundo plano nas referências à criação do Cubismo. Mas sua importância é inversamente proporcional a essa omissão.
Quer se goste ou não, quer se aprecie ou não a criação desses dois gigantes da pintura, o que é inegável é que depois deles, a Arte de Pintar tomou um rumo inteiramente diferente: foram revolucionários!
Georges Braque viveu praticamente recluso os últimos anos de sua vida, mas não deixou de trabalhar em sua arte: produziu uma imensa quantidade de quadros, gravuras, esculturas, todas imbuídas da mesma qualidade.
Faleceu em Paris no dia 31 de agosto de 1963, aos 81 anos.
Em ‘O Bandolim Azul’ o artista aplicou grande quantidade de areia à tinta, o que dá uma aparência de textura real que contrasta com as ilusões que queria transmitir ao espectador.
Dimensão: 116.8 x 88.9 cm
Acervo: Saint Louis Art Museum, St. Louis, Missouri, EUA
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