quarta-feira, 17 de outubro de 2012

CRÔNICA Cartas de Berlim: A cerveja que é uma refeição



Cerveja no Brasil tem muito “milho”, enquanto alemã tem cevada pura
Já ouviu falar que na Alemanha “cinco cervejas equivalem a um Schnitzel”? Não só pelo tanto de calorias, e sim também pelo seu potencial de saciar. Isso nos leva ao tempo dos monges. Enclausurados, não podiam comer. Foi aí que veio Deus, ops, alguma alma caridosa e inventou...a cerveja. A bebida nada mais era uma refeição em forma líquida. Saciava que era uma beleza.
Toda essa embromação para declarar aqui que eu, apesar de não ser uma grande bebedora de cerveja, sou uma grande admiradora da cultura cervejeira na Alemanha - assim como gosto de tudo o que é de certa forma autêntico.
Depois de uma temporada aqui, já cheguei a conclusão que a cerveja chega a ganhar status de bebida não alcóolica. Quase uma refeição em si. Sem falar no rigoroso controle de qualidade.
Estou falando disso porque li essa semana uma notícia que constatava que as cervejas brasileiras contêm mais milho do que o permitido em suas composições. Peraí, milho?
A problemática é a seguinte: o malte com o qual a cerveja é produzida é obtido pela cevada, porém parte dele pode ser substituido, com inúmeras vantagens financeiras, por outros cereais, como por exemplo arroz ou milho. Uma cerveja sem malte de cevada ainda é uma cerveja, porém, se o cereal tiver sido o arroz é quase um saquê, você está sacando a jogada?
Na Alemanha, há uma lei que diz que as cervejas só podem ter 3 ingredientes: água, cevada e lúpulo. Nada de conservantes ou os chamados “adjuntos” ou cereais substitutos que não sejam a cevada. E eu juro até hoje olhar os rótulos esperando morbidamente que alguma dê uma escorregadinha. Mas não dão. É lei. A lei das cervejas. Até a mais mirradinha e barata das “brejas” obedece.

água, lúpulo e cevada = cerveja

Tradição, já ouviu falar?
Mas tudo bem, né? Quem liga para a lista de ingredientes? Se o gosto é bom, está valendo. Isso me lembra uma outra paranóia dos alemães que eu adotei também como minha: análise de listas de ingredientes. Na minha opinião, um hábito ao mesmo tempo saudável e perigoso.
Bem, se não é interesse da Ambev melhorar a qualidade das cervejas, que tal você, meu amigo, começar a comprar e apoiar as cervejarias regionais? Se isso significar um aumento no seu orçamento, que tal comprar menos refrigerante? Eles são caros e pesam no bolso do trabalhador. E se não quiser abrir mão do refrigerante, que tal abdicar do pãozinho? Lembre-se: cerveja de verdade substitui o jantar. E os carboidratos.

Tamine Maklouf é jornalista e ilustradora nas horas vagas. Mora na Alemanha desde agosto de 2009, onde se encontra na “ponte terrestre” Dresden-Berlim. De lá, mantém o blog www.diekarambolage.wordpress.com

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