quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Vencer uma Eleição, por Marcos Coimbra


POLÍTICA


Se existe uma coisa que as eleições municipais não são é uma batalha entre os partidos políticos nacionais para definir um vencedor. Para estabelecer o “campeão”.
Mas há quem insista em vê-las assim. Quem ache que a única coisa que importa é quantas prefeituras determinado partido “conquista”, se cresce ou cai em relação às eleições anteriores. Se, nas capitais e grandes cidades, vence ou perde.
Desde agosto, quando começaram a ser publicadas pesquisas sobre as intenções de voto em uma quantidade maior de cidades, estamos vendo exemplos desse raciocínio. São as “contabilidades” - por enquanto, é claro, provisórias - sobre o número de municípios importantes em que cada partido “vai ganhar”.
Considerando quão imprecisas costumam ser essas projeções, tais contas, na maior parte das vezes, nada mais são que exercícios de “especulação torcedora” – ou, como se diz em inglês, wishfull thinking. Ao invés de embarcar nelas, é melhor aguardar e ver o que o eleitorado decidiu.
Mas essa é outra história.
Mais relevante é discutir o modelo belicista que está subjacente ao raciocínio. Que visualiza as eleições - e, por extensão, a vida politica - como um combate onde só um ganha e os demais perdem.
Em uma acepção puramente individualista, em que as disputas eleitorais são apenas enfrentamentos pessoais, isso talvez seja verdade. Para o indivíduo que se candidata a um cargo político, não ter sucesso pode ser uma decepção e significar o fim de um projeto acalentado durante anos.
Isso não é, no entanto, verdadeiro para os partidos políticos reais e para quem faz política em seu âmbito.
Nesse caso, as derrotas e vitórias adquirem outro significado, pois são vistas em perspectiva mais ampla. Pode-se perder hoje e ganhar amanhã, sendo os fracassos oportunidades para adquirir força para embates futuros.
Nas eleições deste ano, temos candidatos que exemplificam essas possibilidades. Desde os que não possuem qualquer vínculo efetivo com partidos e projetos de longo prazo, aos que atuam na política com ideologia e solidez.
Em Palmas, no Tocantins, Carlos Amastha (PP) está na frente na corrida para a prefeitura. De acordo com as pesquisas recentes, tem mais intenções de voto que todos os outros concorrentes somados.
Neófito na política, Amastha é um bem-sucedido empresário do ramo de shopping centers. Até o ano passado, não parecia ter interesse em deixar os negócios e se dedicar a uma nova atividade. Como disse em recente entrevista, decidiu-se pela mudança quando foi criticado na Câmara de Vereadores de Palmas: “O sangue subiu e vi que precisava fazer alguma coisa”.
Esse rompante pode levá-lo à prefeitura. Se ganhar, será, talvez, o único prefeito de capital de seu (?) partido.
No Rio de Janeiro, a grande distância do favorito, o PSOL tem Marcelo Freixo como candidato (Eduardo Paes está com mais de 50% e ele com cerca de 15%). Atual deputado, tornou-se o predileto de intelectuais como Chico Buarque e Caetano Veloso, assim como da juventude mais moderna da cidade. Sua agenda inclui temas como a defesa dos direitos humanos e o combate às milícias.
O PP ganha com Amastha? O PSOL perde com Freixo?
E no Recife, com Daniel Coelho, o PSDB ganha ou perde? Já é um dos melhores resultados de seu partido em todo o País, independentemente do que vai acontecer em 7 (ou 28) de outubro.
E assim são as coisas Brasil afora. Entender o significado de uma eleição é muito mais que contar prefeituras.

Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi


Nenhum comentário:

Postar um comentário