segunda-feira, 3 de setembro de 2012

CRÔNICA Cartas de Londres: Couchsurfing, o valor de um colchão amigo


Tenho um amigo inglês que se pergunta todos os dias por que cargas d’água foi nascer logo em Londres... O que para muita gente seria um sonho, para ele é um castigo.
Tudo começou com a natural simpatia dele, Marc, que o ajudou a fazer amigos no mundo inteiro. Mas depois do Facebook, a vida para ele se tornou um inferno.
Isso porque todo mundo quer hotel de graça na capital do mundo. E como dizer não ao amigo? E ao amigo do amigo? E às namoradas de todos...? Um constrangimento!
Como isso começou na época da faculdade, quando morava em um dormitório, Marc imaginou que tudo não passava de fase, coisa de jovem. Mas agora, aos 45 anos, a coisa parece que ficou ainda pior, porque a turma entrou na crise da meia idade e resolveu que bom mesmo é aproveitar a vida.
Daí que um dia, enquanto jogávamos conversa fora, disse a ele que encontraria uma solução criativa para o problema. E me lembrei de uma palavra mágica: Couchsurfing!
Já que os quarentões querem aventura, pensei, nada melhor.
Trata-se de uma rede social de viajantes tranquilões, desses que não fazem questão nenhuma de hotel cinco estrelas. Para esse pessoal, basta um sofá (couch), um cobertor... e pronto.
Funciona assim: quando decidido o destino, faz-se o contato com membros da cidade cadastrados no site, e espera-se a resposta: sim, há um lugar no sofá para você!
É um modo inovador de viajar, que hoje conta com mais de 3 milhões de membros em todo o mundo (até na Antártida, acredite!)
Como opção é o que não falta, já que há mais de 80 mil cidades cadastradas na rede, Marc tratou de passar um e-mail com a dica para os amigos que pediam hospedagem.
As respostas foram as mais diversas, muitas engraçadas. Os mais conservadores não entenderam a proposta do Couchsurfing; aqueles que gostam de desafio disseram que vão apostar na ideia, mas só em lugares muito exóticos; já os aventureiros acabaram confessando que são couchsurfers há muito tempo!
Como nem tudo é perfeito, uma parte do grupo disse que isso é coisa de doido, e que Londres nunca será a mesma coisa em outro sofá que não o da casa de Marc.
Diante do que há duas opções: mudar-se para o interior ou profissionalizar-se no ramo. Que tal abrir um hotel de charme numa das bucólicas pracinhas de Londres, como as que existem na vizinhança da King's Cross St. Pancras Station...?

Mariana Caminha é formada em Letras pela UnB e em jornalismo pelo UniCEUB. Fez mestrado em Televisão na Nottingham Trent University, Inglaterra. Casada, mora em Londres, de onde passa a escrever para o Blog do Noblat sempre às segundas-feiras. Publicou, em 2007, o livro Mari na Inglaterra - Como estudar na ilha...e se divertir

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