sexta-feira, 13 de julho de 2012

De olho no dinheiro, por Miriam Leitão


ECONOMIA


Miriam Leitão, O Globo
Os brasileiros estão entrando em terreno novo na sua relação com o dinheiro. No ano passado, foram feitas no Brasil 56 bilhões de transações financeiras. Esse mercado gigantesco tende a ficar diferente no mundo dos juros mais baixos.
A grande pergunta que os investidores se farão agora é se vale a pena manter o dinheiro aplicado com a remuneração baixa. E a resposta certa é: cada um deve aumentar o esforço de poupança.
Com os juros nominais mais baixos da história recente do país, muitos investidores tenderão a considerar que não vale a pena deixar o dinheiro aplicado, mas o mais correto será fazer o oposto e aumentar o investimento. Como a remuneração será menor, para ter o mesmo ganho no futuro, o esforço presente terá que ser maior.
O economista Eduardo Giannetti da Fonseca, autor do livro “O valor do amanhã”, entre outros, explica que essas duas reações são racionais: sacar e gastar; ou fazer um esforço para poupar mais. Mas as consequências são também radicalmente opostas.
— É preciso saber como reage o poupador, quando os juros caem. Ele pode poupar menos. Por outro lado, se almeja uma determinada renda no futuro, terá que poupar mais agora para ter o mesmo resultado — diz o economista.
O Brasil teve durante toda a escalada inflacionária períodos de juros reais negativos, mas agora o que estão baixos são os juros nominais.
— A ilusão monetária era enorme no Brasil. Os juros perdiam da inflação, mas eles eram muito altos. Outro erro que se comete ainda hoje é deixar o dinheiro aplicado com uma remuneração baixa e ficar devendo em modalidades caras de crédito. Se for feita uma pesquisa, serão encontrados muitos casos assim, de correntista que deixa tudo - o dinheiro aplicado e a dívida - no mesmo banco. Se a pessoa for para a janela e rasgar dinheiro dá no mesmo — imagina Giannetti da Fonseca.
Será preciso saber se esse “terreno novo”, na expressão do economista, está aí para ficar. Ou seja, se os juros permanecerão baixos. Ele teme que as taxas tenham que subir mais adiante por elevação da inflação, quando a economia retomar o crescimento.
Mas as quedas de agora podem ter consolidado um novo patamar mais baixo de taxa de juros. O poupador terá, então, que aprender a ficar sensível a pequenas diferenças de remuneração, da mesma forma que aprendeu a sentir as pequenas alterações na inflação.
Esse novo momento de juros menores demorou a chegar. Há 18 anos, o Brasil conseguiu vencer a superinflação e só agora os patamares de juros estão se aproximando de padrões internacionais.
Por outro lado, o custo de determinadas modalidades de crédito, como cheque especial e crédito rotativo do cartão, é fora de propósito. Não há justificativa econômico-financeira para os valores cobrados. E os bancos admitem disso.
Os correntistas terão que aprender a administrar suas dívidas para manter a capacidade de pagamento, escolher modalidades mais baratas, rejeitar o superendividamento.
No lado dos ativos, terão que trabalhar muito para conseguir pequenas diferenças na remuneração do capital e, assim, ter no futuro a renda que programou ter. O investidor terá que ser mais atuante; e o devedor, mais cauteloso.
Tudo isso é trabalhoso e exige tempo, cálculos, conversas com gerente ou troca de banco.
Eduardo Giannetti da Fonseca acha que é preciso haver também mais transparência no custo de certos financiamentos. Pondera que não faz sentido que um bem, comprado à vista e a prazo, tenha o mesmo preço.
Não é financeiramente possível no país de um dinheiro tão caro. Muito provavelmente o custo está embutido no preço, de tal forma que o consumidor leva para casa uma geladeira e paga o valor equivalente ao preço da geladeira e do forno micro-ondas também.
Nesse novo terreno dos juros baixos para os investimentos, mas taxas ainda altas nos financiamentos concedidos pelos bancos, o país precisa fazer um grande esforço de educação financeira.
O Banco Central tem informações no seu site e gente pensando sobre isso. Bancos estão editando cartilhas até para crianças sobre como poupar ou usar o dinheiro. A Febraban tem um site “Meu bolso em dia”, com milhões de acessos. Tem feito caravanas de serviços financeiros com show musical para atrair pessoas em áreas de periferia das grandes cidades.
Tudo isso somado tem sido insuficiente. A inadimplência aumentou muito, há famílias que estão empilhando parcelamentos de crédito. No lado dos ativos, é preciso aprender o valor das baixas remunerações, ao mesmo tempo em que se combatem taxas de administrações exageradas dos bancos.
A queda dos juros abre toda uma nova agenda de trabalho e aprendizado para os agentes financeiros e seus clientes no país que, durante tantas décadas, teve juros cronicamente altos.
Como na época da luta contra a hiperinflação, as ações individuais vão determinar o sucesso dessa nova etapa da relação do país com sua moeda conquistada há 18 anos, depois de tantos planos fracassados, sustos e até um calote.
Agora, é a hora de aprender a poupar mais, porque a rentabilidade do dinheiro caiu fortemente nos últimos meses. E se tudo der certo, os juros continuarão baixos.

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