quinta-feira, 28 de junho de 2012

OBRA-PRIMA DO DIA - PINTURA Hieronimus Bosch - As tentações de Santo Antão (parte 2)



Enviado por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa - 
28.6.2012
 | 12h00m

Hieronimus Bosch que, acredito piamente, seria um internauta entusiasmado, não é fácil de ser apreciado na tela de um micro. Ele precisa de espaço. São tantas as figuras e tantos os detalhes, fica complicado falar de seus sonhos e pesadelos exibindo apenas essas ‘pobres’ imagens no espaço do qual dispomos.
Hoje volto a falar nas Tentações de Santo Antão. Amanhã farei uma espécie de « medley » dos mais interessantes personagens e cenas das obras que mostramos nesta semana. E na semana que vem, Hieronimus Bosch – parte II
Abaixo a imagem do painel direito: Conhecido como "a meditação de Santo Antão", apresenta uma mulher banhando-se, nua, junto a um tronco de árvore, tentando aliciar o Santo com a luxúria. Este desvia o olhar para a esquerda, onde depara com um grupo de estranhos seres que o tentam com comida e bebida, para o pecado da gula. No alto, de novo os demônios voadores levando estranhos passageiros. Em segundo plano, à direita, vemos uma figura estranha num andador! e uma outra figura, num descampado, com uma espada que enfrenta um dos monstros. E a bruxa, meio oculta, verte em uma taça uma poção mágica para um pobre moribundo.
 
Na época de Hieronimus Bosch, a Igreja lutava contra as práticas da magia. Em 1484, Inocêncio VIII proclamou a bula "Summis desiderantes affectibus", publicada três anos após a publicação do "Malleus Maleficarum" (O martelo das bruxas), onde se lia : "não acreditar nas bruxas é o cúmulo da heresia".
Não há nada que comprove que Bosch tivesse se valido do 'Malleus' para suas obras. No entanto, como esse opúsculo conheceu uma dúzia de edições, podemos quase que afirmar que Bosch o leu.
Esse rogatório dos inquisidores testemunha o clima extremamente hostil que dominava a sociedade na qual Bosch viveu. Na realidade, a distinção não era nítida entre a magia e a superstição, nem entre o sortilégio e a magia. O ponto comum era o diabo.
A imagem impressa mais antiga de uma bruxa se dirigindo a uma assembleia de feiticeiras, montada em uma vassoura, foi encontrada numa obra publicada em 1489. Bosch deu outras interpretações para a mesma cena, especialmente no tríptico mostrado aqui ontem.
A palavra superstição designa comportamentos, crenças, ações ou operações que servem para conjurar influências maléficas ou implorar por acontecimentos felizes. Pode ser uma perversão, ou seja, uma caricatura da religião, ou uma das muitas variações do fetichismo.
Raia a heresia, a credulidade, a idolatria, a magia, a bruxaria, a adivinhação (tal como a quiromancia) e, em geral, tudo que é considerado oculto. Nos estertores da Idade Média, no umbral dos Tempos Modernos, a profissão de fé seguida por toda a população era manisfestamente contaminada pela superstição. O culto das relíquias, a veneração dos santos, e as peregrinações contribuiram para a propagação da superstição.
E o ápice da evocação que Bosch dedica à superstição está em A tentação de santo Antão, com a representação que faz da Missa Negra.

Detalhes: As tentações de Santo Antão - acervo Museu de Arte Antiga de Lisboa.

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